Senomar

Mais de uma amiga, pode parecer irreal, mas tenho mais de uma amiga. Inclusive, tenho amizades de mais de vinte anos. Bom, voltando ao assunto, quero contar uma lembrança que me faz sorrir um sorrizinho malandro.

Minhas amigas, para eu me distrair, depois de uma dolorosa separação sugeriram que eu me cadastrasse no Tinder, mas pensei não sou a Jhenifer e o Gabriel já se foi, mas só pensei, porque penso mais rápido do que existo.

E disse rindo em uma dessas conversas:

-Eu espanto as pessoas.

-Mas o que você fala?

E eu relatei um trocadilho que fiz com o nome de um rapaz, de aparência gentil, que certa vez, curtiu meu perfil, não no tinder, mas na rede social mais in...sociável que existe face not face.

Perguntei:

-Senomar eu me afogar você me salva?

Ele respondeu que sim e nunca mais falou comigo.

Perdi meu pouco de amar

Brinquei com seu nome, porque, também tenho nome diferente. Nome antigo, dos tempos dos primeiros baobás crianças.

Ele não sabe, mas morro de medo mesmo de água, não da morte nela, mas da agonia que vem antes. Trauma antigo, desde a infância antes dos baobás.

Ou ele espera ainda que eu me afogue, sendo que, nunca mais fui à praia. Duvido ele sentir tamanha necessidade de ser útil a uma estranha.

Nem sequer deve saber de minha existência.

Por medo talvez, dele não me salvar, ando de beira, de canto, cabreira. E ele com certeza nem viu meu nome, arregalou os olhos e deu uma resposta gentil. Já deve estar no terceiro namoro. Até a namorada pode estar pra ser mãe de um segundo filho seu, o esperado, fruto de árvores mais maduras. Vai que salva outra pessoa com nome mais bonito?

Ou nunca me levou a sério, o que presumo muito mais provável.

Minhas experiências com tentativas de conversar com homens, não são muito diferentes ou mais bem sucedidas do que essa.

Acho que esqueci de como iniciar um contato, uma conversa com alguém desconhecido. Ou nunca aprendi a me comunicar com ausentes. Gosto de conversar com os olhos e se me faltam os olhos não há o brilho-fio-conector. E sem isso não há apps que me salvem.

Talvez eu ache banal demais falar apenas da previsão do tempo, do que passa na TV, das personagens da novela.

O tempo muda, não vejo BBB, não assisto novelas, não sou fã de futebol nem de carnaval.

E sair perguntando do que eu gosto, do que você gosta ou deixa de gostar parece-me tão, tão sem graça, meio @utomático.

E das coisas das quais gosto de falar, de ouvir, de compartilhar, quase ninguém quer saber.

Às vezes penso em comprar uma bicicleta, é mais fácil pedalar do que falar.

Outras vezes tento não pensar em nada.

Nem em pedalar.

Nadar não sei.

Conversar desaprendi.

Ler eu leio sozinha.

Antigamente, conversava com a lua.

Atualmente, acho que ela namora o mar.

Madame Butterfly
Enviado por Madame Butterfly em 03/06/2023
Reeditado em 03/06/2023
Código do texto: T7804101
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