Sem limites
A brisa fresca acariciava-lhe o rosto com a brandura de uma mãe emplumada, e o índigo celeste com leves pinceladas de branco algodoado enchia-lhe os olhos naquele momento mágico. Fixou o olhar no horizonte e presenciou o nascimento de uma vaga que se agigantava mais que suas predecessoras. Imaginou-se com uma prancha a deslizar pela crista, domando-a em seu tubo como a um animal selvagem, até que vencida e desfigurada não lhe restasse mais que a marola espumante...
Abriu os braços e entregou os sentidos à areia macia sob seus pés, bem como aos raios solares, que, atenuados pela brisa marítima, crestavam-lhe a tez. Ao seu lado, enquanto construíam um enorme castelo de areia, Flávio Venturini e os demais integrantes do 14 Bis entoavam a melodiosa canção "Todo azul do mar". A revoada de um bando de aves marinhas tornou a pintura celeste ainda mais inspiradora. Lágrimas principiaram a rolar em sua face...
Decidiu entrar novamente na água, porém dessa vez com o jet ski. Acelerou, saltou ondas e fez manobras ousadas. A adrenalina percorria suas veias e o impulsionava a ir sempre além. Depois de algum tempo, pilotou até uma ilhota onde possui uma linda casa construída em alvenaria e madeira. Na sala principal, parte do teto abria-se em espiral permitindo que o Sol aceitasse o convite e entrasse com seus raios dourados. Enormes vidraças, e estruturas em cedros do Líbano, davam um aspecto "clean" e sofisticado à construção. A pintura interna em tons pastéis conferia ao lugar a sensação ainda mais acentuada de paz e calmaria…
Sentou na espreguiçadeira, disposta no deck que margeava a piscina, e entregou-se a ouvir o canto dos pássaros que empoleiravam-se nas copas das árvores. Porém o cheiro de um perfume conhecido, e um par de mãos macias que passaram a massagear-lhe os ombros, roubou-lhe a atenção. Era sua esposa. Sorridente, ela trajava um roupão de banho dando a entender que não vestia nada por baixo. Ele sorriu-lhe de volta e em seguida a beijou. Ajudou-a a livrar-se da vestimenta e então eles fizeram amor ali mesmo no deck, tendo apenas os pássaros por testemunhas daquele momento de desejo e paixão. O sentimento prevalente no coração de ambos tornava quase sacrílega a expressão conjunção carnal para definir o que acontecia na beira daquela piscina. Havia infinitamente mais que apenas epiderme, fluidos e outros elementos de natureza orgânica envolvidos. Novamente algumas lágrimas furtivas molharam seu rosto...
Abriu os olhos. Toda a sensação ainda permanecia incólume, inclusive o gosto das lágrimas em sua boca que abria-se num sorriso para muitos incompreensível. Mas o fato é que, mesmo naquela cadeira de rodas e desprovido de quase todos os movimentos, ao fechar os olhos podia ser o que quisesse, ir a qualquer lugar e fazer qualquer coisa...
Texto inspirado na poesia "Cantos da liberdade", do poeta Raphael L, o Mago dos sonetos.