I

Jebb já estava de pé, pouco antes do amanhecer. Mastigava fumo na varanda, com um copo de café misturado com uísque. – “Começou cedo no uísque, hã?” – Perguntei, ele sorriu calado. Levantou o copo, brindando ao nada e olhando as montanhas cercadas de névoa matinal. “Vou andar… Posso levar seu rifle comigo?”. Jebb deu de ombros enquanto bebia sua bebida imunda. Sua calma era irritante, parecia um idiota, mas um desconhecido mais ousado terminaria muito mal se o provocasse. Jebb foi pistoleiro…

 

Até hoje não sei bem dizer, porque pedi o rifle emprestado. Subi a colina, a pé… duro... ereto… decidido. Deixando o sol torrar meus ombros enquanto meu rosto era protegido pelo meu velho chapéu marrom, desbotado…Ao longe vi um cavaleiro solitário, tão longe que mal posso lembrar seu rosto. “Eu só queria praticar minha mira…”. O disparo quebrou o silencio e foi lindo. A força do tiro quase me fez cair para trás… O cavalo branco continuou correndo com vontade e sem destino, enquanto o homem morto jazia com o rosto enterrado na areia. Baixei minha cabeça… Era tarde demais… Baixei minha cabeça…

 

II

Baixei minha cabeça e corri como um louco…corri e corri…tentando crer que tudo aquilo foi só um pesadelo. Larguei o rifle de Jebb lá onde meu crime ficou pra trás. Corri por vários dias, nas terras do sul… Mas fui encontrado, apedrejado, chutado quase até o fim… Era agora um fora da lei que matou um ser amado. Amado por alguém. Baixei a cabeça…o que fazer? Baixei a cabeça…

 

III

Agora aqui, no tribunal… Estou perdido em pensamentos. Sei que sou culpado, mas o juiz quer saber se tenho algo a dizer. “EXPLIQUE AO TRIBUNAL O QUE DEU EM SUA CABEÇA. E perguntaremos ao júri… qual o seu veredito!”. Aprendi a dura lição sobre o silencio de Jebb, meu irmão. Era o silencio do culpado… Deixando o julgamento nas mãos de um Deus justo. Assombrado pelo homem sem face e seu cavalo branco… Baixei a cabeça… Não existe defesa. Baixei a cabeça… “Não há descanso para os amaldiçoados…”. Baixei a cabeça…E o homem sem face, veio me buscar em minha cela. Antes mesmo da forca estar pronta. Veio me acusar, por toda a eternidade. E pela última vez…Baixei a cabeça. Cavalgamos juntos em cavalos brancos. Cavalgamos às pressas até o reino de Pai. E fui recebido por quatro cavaleiros e também anjos com suas trombetas.

 

*Este conto é uma homenagem à música “I Hung My Head”, de Sting… Cantada por um dos meus grandes ídolos da música: Johnny Cash.

 

 

 

 

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 26/05/2023
Reeditado em 26/05/2023
Código do texto: T7798060
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.