Armando o circo...
Essa história é sobre o médico Armando Oberlechner Pinto, descendente de alemães pelo lado materno e portugueses pelo paterno, um conceituado urologista numa daquelas encantadoras cidades do sul do país, povoadas principalmente por imigrantes vindos da Europa, sobretudo alemães. Ela começa a partir do momento em que sua idosa secretária resolveu se aposentar e ele precisou contratar uma nova atendente para o consultório.
Embora eficiente, Lindinalva tinha dificuldade para pronunciar e escrever corretamente o nome do meio do médico, Oberlechner, então passou a abreviá-lo para Dr. Armando O. Pinto, com a permissão do próprio. Passado algum tempo, a clientela do médico (curiosamente não existe o termo pacientela, aplicável a paciente, que é como somos chamados pelos médicos) começou a aumentar sensivelmente, porque, com um nome desses ninguém precisava de propaganda: ele conferia enorme credibilidade ao profissional.
Enciumados ficaram os demais urologistas da localidade - que eram apenas outros três -, porque perderam vários de seus clientes para o concorrente. Mas buscaram um modo de espalhar pela clientela que o urologista, quando jovem - não há muito tempo então, porque o médico naquela ocasião estava na casa dos trinta anos - havia trabalhado em filmes para adultos, coisa eticamente condenável segundo eles e muito pouco saudável também. Mas a mentira não funcionou nada bem...
Pois foi a vez de as videotecas locais ganharem muito dinheiro com o aluguel de DVDs, mesmo que nenhuma delas tivesse qualquer filme estrelado pelo então jovem Armando Pinto que, segundo os proprietários fizera filmes adultos, ou pornográficos mesmo, a fim de custear seus estudos médicos, o que era outra deslavada mentira. O Armando Pinto dos DVDs em catálogo era outra pessoa, um ator de filmes para adultos que se parecia com o médico, mas nem tanto assim. Mas como ninguém queria sair das locadoras com as mãos vazias acabavam alugando os filmes do Armando homônimo (e altamente heterossexual segundo a propaganda das produtoras, um eufemismo para dizer outra coisa), também outros filmes, eróticos ou não.
Resumindo o DVD: ali na cidadezinha (quase) todos continuavam vivendo felizes para sempre até o dia em que tiveram de rebobinar suas vidas. Porque havia surgido o streaming de filmes e séries e as videotecas, que dali a algum tempo já eram apenas cinco, fecharam todas; também dois dos concorrentes do urologista se mudaram para outras cidades mais prósperas. Mas o Dr. Armando O. Pinto, um cinquentão agora, permanecia firme, forte e rijo, atendendo a todos com cortesia. Tanto aqueles que detinham planos de saúde quanto os depauperados que não podiam pagar um e utilizavam o criticado e lento mas gratuito sistema universal de saúde.