A REFORMA

Ela era uma arquiteta. Gostava de projetar e reformar casas, ver as transformações e as melhorias. Era talentosa e criativa. Mas um dia, teve um problema. Foi contratada para reformar uma casa antiga, que pertencia a um casal misterioso. Disseram que queriam modernizar e ampliar a casa, mas não deram muitos detalhes, que confiavam no seu trabalho e que pagariam bem, que só voltariam quando a reforma estivesse pronta. Aceitou o serviço e começou a trabalhar. Fez um projeto ousado e inovador, que mudava completamente a estrutura e o estilo. Contratou uma equipe de pedreiros e pintores para executar o projeto. Supervisionava tudo com cuidado e dedicação. Mas a cada dia que passava, percebia que algo estava errado, não se deixava reformar, resistia às mudanças, se rebelava contra ela, desfazia o que fazia, restaurando o que era antes. Criava obstáculos e dificuldades, atrasando e atrapalhando o trabalho, tentava expulsar e ferir ela e os seus funcionários. A casa não queria ser reformada, queria ficar como era. Tentou insistir, mas era inútil. A casa era mais forte do que ela., era uma força viva e indomável. Desistiu da reforma.

Ligou para o casal e disse que não podia mais fazer a reforma. Disse que a casa era impossível de mudar, que tinha vontade própria, que era mal-assombrada. O casal ficou furioso e incrédulo, disseram que ela era incompetente e mentirosa, que tinha quebrado o contrato e que iam processá-la, que iam voltar imediatamente para ver a casa. Ela ficou assustada e arrependida. Pediu desculpas e disse que ia tentar consertar as coisas. Voltou para a casa e implorou para ela colaborar. Disse que só queria fazer o seu trabalho e agradar os seus clientes, que não tinha a intenção de ofender ou desrespeitar a casa, que admirava e respeitava, que a amava. A casa ficou comovida e compreensiva, aceitou se reformar, se adaptou às mudanças, se harmonizou com ela, se tornou a sua obra-prima. Terminou a reforma e ficou orgulhosa e feliz. Ela esperou o casal chegar para mostrar o resultado. Mas o casal nunca chegou. O casal nunca existiu, era uma ilusão criada pela casa. A casa queria ser reformada, mas só por ela. A casa queria ser dela, e ela da casa. A casa a prendeu dentro de si. Ela ficou na casa mal-assombrada

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