A menina
Ela tinha uns 7 anos e estava sentada no meio fio, em conversa com uma amiga, quando o viu chegando junto com os pais, uma menina e um irmão...ficou logo com o coração acelerado e com os olhos parados, apenas olhando aquele ser pequeno, de calças curtas,cabelo preto como seus olhos e um sorriso no rosto. Passaram, cumprimentaram e sentaram lá na frente, primeiros bancos de uma igrejinha. Isso aconteceu por vários meses , ela sempre chegava e ficava a espera de que ele chegasse para vê-lo e receber seu sorriso.
Os pais ficaram amigos, ela fez amizade com a irmã dele e um dia, depois que terminou o culto eles sairam e começaram a conversar (isso,depois de ficarem durante o cerimonial todo, um olhando para o outro com o canto dos olhos), fizeram amizade, descobriram que estudavam no mesmo colegio e em horários semelhantes. Marcaram de se vêem, no portão de entrada da escola, no outro dia.
A noite não passou para ela que esperou o dia amanhecer, quase sem dormir , na expectativa de ver aqueles olhos novamente e ver aquele sorriso no rosto dele. Sua alegria foi enorme ao vê-lo, mas foi quebrada a euforia ao descobrir que ele era amigo de seu irmão e que, o pior para ela, sua amiga gostava dele. É, sua amiga havia dito dias antes que estava namorando um menino novo na escola e, naquele dia, ela disse que gostava dele e que ele tambem havia dito que gostava dela. Naquele instante, tudo que a menina mais queria era que o mundo acabasse, ou que se abrisse um buraco no chão, e ela sumisse dentro dele. Sua melhor amiga apaixonada pelo primeiro amor de sua vida.
Nova e inexperiente, a menina sufocou seu amor. Nunca falou com o menino que o amava e, mesmo frequentando a casa dele, sendo amiga intima da irmã e amando os pais dele, nunca demonstrou ama-lo e nunca deixou que isso atrapalhasse a amizade dos dois, ou melhor , nunca permitiu que a amizade entre os amigos fosse abalada por isso.
O tempo passou, eles se mudaram e a menina, agora uma adolescente, começou a namorar uma pessoa. Tentou descobrir onde andava o amor de sua infância e descobriu que ele estava farreando pela vida, que não levava as mulheres a sério e que não se importava com os sentimentos delas...sendo assim ela resolveu se casar e esquecer esse amor. Foi viver a sua vida, criar seus filhos, cuidar de sua carreira, zelar pelo seu marido. Tentou ser feliz e esquecer o
amor de infância, embora não conseguisse apagar da mente aqueles olhos lindos, aquela voz gostosa de ouvir.
A maturidade veio, como para todas as pessoas, e a menina tornou-se uma mulher, ainda cheia de sonhos , de planos e de projetos. Filhos crescidos, marido com vida própria e ela com seus pensamentos, escritos,seus passa-tempos na internet (que é orkut comunidades) e assim, um belo dia, descobre o amor de sua vida entre as comunidades.
A principio, pensa tratar-se de uma peça de sua mente, um trote de seu coração, mas se engana, era ele mesmo. Aqueles olhos nunca seriam esquecidos, nem aquele sorriso, ainda que agora meio sarcásticos, mas ainda o sorriso lindo que a encantou. A menina toma conta do corpo da mulher e ela chora por muito tempo, lembrando tantos sonhos e ilusões vividas em sua cabeça de criança e adolescente. Lembra do tempo em que o conheceu e da ultima vez que falou com ele, já usando calças compridas e com o cabelo começando a crescer, como era a moda hippye. Chama as filhas e o marido para ver o amigo querido. Fala com as filhas sobre ele e conta que foi o primeiro amor da vida da mãe delas.
Começaram a se falar pelo orkut, trocaram emails e começaram a conversar via msn. Descobrem os interesses em comum.
Falam sobre os filhos, os pais, os amigos em comum daquele tempo, sobre os parceiros na vida daquele tempo e sobre os parceiros na vida atual.
Se falaram por uns tempos, ambos tem vida propria, vidas separadas, mas ligadas pelo mesmo gosto em comum, em todos os setores... se falam, lembram o tempo passado, cada um conta como foi a vida deles por todo o tempo que não se viram, mais de 30 anos.
A mulher sabe que o amor de infância jamais deixará de ser seu primeiro amor de verdade, mas que tem um amor de adulto que merece seu respeito. Descobre também que seu amor de infância era algo só seu, só seu coração sentia e será apenas seu,para sempre.
Os adultos choram pelo tempo que passou, pela infância perdida, pelo amor que poderiam ter vivido e que não viveram. Trocam mensagens por uns tempos, mas descobrem que isso é passado e que o amor de criança jamais poderá ser concretizado hoje.
A inocência daquele amor vivido, sem nunca provarem o sabor do beijo um do outro, sem nunca saber o calor do corpo um do outro, ficará para sempre na mente daquela menina que, agora mulher, sabe o quanto um amor pode ferir e machucar o coração puro de uma pessoa sincera.
A menina cresceu e a mulher matou o que de bom ela poderia oferecer a um amor de verdade.
Os anos vividos a espera de saber desse amor foi a causa dessa menina ter vivido ate os dias de hoje, sempre feliz e sorridente.
A ilusão morreu no coração da menina, o sonho que a mantinha viva se desfez, a garra que ela tinha de lutar foi arrancada, o amor que ela guardou por tantos anos ela guardou em um canto de seu peito, apenas para lhe fazer companhia nas noites de solidão...a menina morreu para deixar nascer uma mulher.