RITA LEE FUMANDO UM BASEADO COM JESUS
RITA LEE FUMANDO UM BASEADO COM JESUS
Rita Lee estava triste. Tinha acabado de receber a notícia de que seu câncer de pulmão tinha se espalhado e que não tinha mais chances de cura. Sabia que seus dias estavam contados e que em breve deixaria este mundo.
Um dia, estava em sua casa, em São Paulo, rodeada de seus familiares e amigos. Eles tentavam consolá-la e animá-la, mas não sentia vontade de conversar nem de ouvir música. Só queria ficar sozinha e pensar na vida.
Pediu licença e foi para o seu quarto. Se deitou na cama e olhou para o teto. Pensou em tudo o que tinha feito, em tudo o que tinha vivido, em tudo o que tinha amado. Pensou nos Mutantes, na Tropicália, na carreira solo, nas canções, nos shows, nos fãs, nos filhos, no marido…
Sentiu uma mistura de orgulho e arrependimento. Se orgulhava de ter sido uma artista pioneira, ousada e irreverente. De ter sido uma mulher livre, independente e forte. De ter sido a rainha do rock brasileiro.
Mas também se arrependia de algumas coisas. De ter sido tão rebelde, tão polêmica, tão provocadora. De ter brigado com tanta gente, de ter magoado tanta gente, de ter perdido tanta gente, de ter usado tantas drogas, de ter bebido tanto álcool, de ter fumado tanto cigarro.
Pensou que talvez fosse esse o motivo do seu câncer. Talvez fosse esse o castigo por seus excessos, o preço por sua liberdade.
Sentiu medo. Medo da morte, medo da dor, medo do desconhecido. Se perguntou o que aconteceria depois que morresse, se existia mesmo um Deus e se ele a perdoaria por seus pecados. Se existia mesmo um céu e se seria aceita lá.
Lembrou que tinha sido criada na religião católica, mas que tinha se afastado dela há muito tempo. Que tinha criticado a igreja, os padres, os papas, os santos… Que tinha zombado de Jesus Cristo, o filho de Deus.
Lembrou que tinha escrito uma música chamada “Jesus Cristo”, na qual dizia:
"Jesus Cristo me perdoe
Eu não sei o que eu faço
Eu só sei que eu te amo
Mas eu vivo pecando"
Lembrou que tinha gravado um clipe dessa música, no qual aparecia vestida como uma freira sexy e sensual e que tinha causado muita polêmica e muita revolta com essa música e com esse clipe.
Pensou que talvez Jesus Cristo não a perdoasse. Talvez ele não a amasse. Talvez ele não a quisesse no céu.
Sentiu uma vontade louca de falar com ele. De pedir perdão a ele. De dizer que também o amava.
Mas não sabia como fazer isso. Não sabia como rezar e se conectar com ele.
Teve uma ideia. Pegou um cigarro de maconha que estava escondido em sua gaveta e acendeu. Deu uma tragada e soltou a fumaça pelo nariz.
Pensou: “Talvez isso me ajude a entrar em contato com ele”.
Fechou os olhos e tentou se concentrar.
Disse em voz alta: “Jesus Cristo… Você está me ouvindo? Você pode me responder?”
Esperou alguns segundos e não ouviu nada.
Disse novamente: “Jesus Cristo… Por favor… Fale comigo… Eu preciso falar com você…”
Esperou mais alguns segundos e não ouviu nada.
Disse pela última vez: “Jesus Cristo… Eu te imploro… Me dê um sinal… Qualquer sinal…”
Foi então que ouviu uma voz vinda do nada:
Rita Lee? É você?
Abriu os olhos e viu um homem parado na porta do seu quarto.
Era alto e magro, tinha cabelos longos e barba, vestia uma túnica branca e sandálias.
Era Jesus Cristo.
Ela ficou boquiaberta. Não podia acreditar no que estava vendo.
Jesus Cristo? É você mesmo? - ela perguntou.
Sim, sou eu - ele respondeu.
Mas… Mas… Como você veio parar aqui? - ela perguntou.
Eu vim atender ao seu chamado - ele respondeu.
Ao meu chamado? - ela perguntou.
Sim, ao seu chamado - ele respondeu. - Você me chamou três vezes pelo nome. Você me pediu para falar com você. Você me pediu para te dar um sinal.
E você veio? - ela perguntou.
E eu vim - ele respondeu.
Mas… Mas… Por quê? - ela perguntou.
Porque eu te amo - ele respondeu.
Rita Lee ficou emocionada. Sentiu uma alegria imensa invadir seu coração.
Você me ama? - ela perguntou.
Eu te amo - ele respondeu.
Mesmo depois de tudo o que eu fiz? Mesmo depois de tudo o que eu disse? Mesmo depois de tudo o que eu cantei?
Mesmo depois de tudo isso - ele respondeu.
Você me perdoa? - perguntou.
Eu te perdoo - ele respondeu.
Rita Lee chorou. Chorou de alívio, de gratidão, de felicidade.
Correu para abraçar Jesus Cristo. Ele a abraçou também.
Ficaram assim por um tempo, sem dizer nada.
Depois eles se soltaram e se olharam nos olhos.
Ela sorriu para Jesus Cristo. Ele sorriu para Rita Lee.
Ela pegou o cigarro de maconha que estava em sua mão e ofereceu para Jesus Cristo:
Quer dar um tapinha?
Jesus Cristo pegou o cigarro de maconha e aceitou:
Por que não?
Ele deu uma tragada e soltou a fumaça pelo nariz:
Hummm… Que delícia!
Ele devolveu o cigarro para Rita Lee:
Obrigado!
Rita Lee pegou o cigarro e também deu uma tragada:
De nada!
Eles começaram a rir juntos:
Hahahaha!
Eles continuaram fumando e conversando:
Sabe… Eu sempre gostei das suas músicas…
Sério? Mesmo as mais sacanas?
Claro! Eu tenho senso de humor!
Que bom! Eu também tenho!
Eu sei! Você é muito divertido!
Você também é!
Obrigada!
De nada!
Eles continuaram fumando e conversando:
Sabe… Eu sempre admirei a sua coragem…
Sério? Mesmo quando eu enfrentei os poderosos?
Claro! Eu também enfrentei os poderosos!
Eu sei! Você foi muito valente!
Você também foi!
Obrigada!
De nada!
Eles continuaram fumando e conversando:
Sabe… Eu sempre quis te conhecer…
Sério? Mesmo depois de tanto tempo?
Claro! Eu sempre estive perto de você!
Eu sei! Você sempre esteve no meu coração!
Você também esteve no meu!
Obrigada!
De nada!
Eles continuaram fumando e conversando:
Sabe… Eu sempre te amei…
Sério? Mesmo sem me conhecer?
Claro! Eu te conheço desde antes de você nascer!
Eu sei! Você me criou à sua imagem e semelhança!
Eles continuaram fumando e conversando:
Sabe… Eu sempre quis te abraçar…
Sério? Mesmo sem me tocar?
Claro! Eu te toco com o meu espírito!
Eu sei! Você me toca com a sua música!
Você também me toca com a sua palavra!
Obrigada!
De nada!
Eles se abraçaram novamente e se sentiram em paz.
Eles terminaram de fumar o baseado e jogaram a bituca pela janela.
Eles se deitaram na cama e se cobriram com o lençol.
Se olharam nos olhos e se beijaram na boca.
Se entregaram um ao outro e fizeram amor.
Sentiram uma conexão profunda e sagrada.
Sentiram uma alegria imensa e eterna.
Sentiram que estavam no céu.
E eles estavam.
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