O preto

Era noite de novembro, ele estava preso em seu próprio silêncio e dentro dele gritava suas dores. Vivia em parado, preso em suas próprias emoções e perdido sem saber quem é.

Preso nas melodias de cantores pretos, melodias que carregam dores e elevam tudo o que o faz pensar existir. A chuva sobre o corpo no terreno baldio, o suor que lambe sua pele e as lembranças de um passado que ainda nem existiu, mas que vivenciara noutra vida.

Preso nas dores de Quilombo, Dandara, Carolina e tantas outras personalidades que o fazem ser quem é. A busca por conhecer a dor de sua raça o deixa perdido de si, porque não soubera o que é dor, anestesiado, perplexo, abre os olhos. As lágrimas confundem-se com as águas da chuva e o preto se encheram por dentro, intrínseco à sua dor que até então não conhecera, estavam as lutas de um povo que fora reprimido, usurpado, açoitado, mas que conseguiu gritar, não perdeu fôlego, resistiu.

Parece que a noite não passa, os vultos, as lembranças, as memórias das leituras que fizera o mantém preso dentro do seu corpo.

Imóvel, estático, sem perceber que acabara de se encontrar, percebe o sol brilhar em seus olhos em meio a noite, ele é a própria luz de que precisa. Reconhecera sua voz no seu próprio silêncio, seu sorriso dentro de suas lágrimas e tudo passou a fazer sentido para ele.

O preto que se perdera um dia, hoje é luz para que o mundo o enxergue.

Gilson Azevedo
Enviado por Gilson Azevedo em 06/05/2023
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