Eu que não fumo queria um cigarro

Ele sentia falta da doçura áspera da voz dela. Falta do beijo com gosto de café. Falta da fumaça de cigarro que indubitavelmente, se espalhava pelo ar quando ela fumava. Falta de ver os sapatos ou sandálias que ela sempre deixava ao lado da porta (pois segundo ela, andar descalça era o momento em que se sentia realmente liberta). Sentia falta até mesmo dela brigando com ele por causa de uma toalha molhada que ele não estendeu ou por causa de um copo que ele esquecera na pia sem lavar. Era estranho... fazia o quê? Quase dois meses? Isso mesmo... quase dois meses que ela havia ido embora. E ele ainda não havia se acostumado com o silêncio em casa... com um prato só na mesa... com o barulho ensurdecedor do silêncio. Ele se deu conta de que lembrava sempre mais desses pequenos detalhes que antes, passavam despercebidos... mas que agora, se tornavam grandes demais para esquecer. Ele ouviu os pingos de chuva batendo na janela e olhou para o relógio. Ainda eram duas da manhã. É... seria uma longa noite. Mais uma longa noite em claro na qual as horas se arrastariam pelos cantos da casa vazia e silenciosa. “Eu que não fumo queria um cigarro” – o trecho da música ecoou pela noite, vindo de algum lugar e o atingiu como um soco. É... ele sabia exatamente como era se sentir assim.

Denis, O Dreamaker.

20,24/06/2016-14:08

N.D.A.: Este texto começou a ser escrito na madrugada insone do dia 20/06/2016. Eu escrevi “Ele sentia falta da doçura áspera da voz dela. Falta do beijo com gosto de café.” – e parei por ali. Isso era algo que já andava pela minha cabeça a algum tempo, mas que eu não conseguia colocar em palavras ou desenvolver. Quatro dias depois, finalmente consegui fazer algo com ele. Gostei muito do resultado final.

Confiram outros textos inéditos de minha autoria no meu Blog Terra dos Sonhos (http://sonhosdesperto.blogspot.com):

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