AS GOTEIRAS
Francisco de Paula Melo Aguiar
A partir das doze horas e poucos minutos e alguns segundos, em 30 de abril de 2023, as goteiras visíveis da Capela do Desterro, construção em estilo barroco rococó de origem portuguesa, foram temporariamente tiradas.
Ontem foi dia de chuva e lama na estrada de terra que um dia foi chamada de "Estrada das boiadas" (única via de comunicação rodoviária entre a Paraíba e Pernambuco, antes da construção das BRs até a década de 40 do século XX) e ou "Estrada Real", em cujo solo ou leito em 26 de dezembro de 1859 desfilou o Imperador Pedro II e sua comitiva da Paraiba à Pilar (que chegou antes da hora e não tinha ninguém lhe esperando, por isso o Governador da Paraiba mandou prender Henrique Lins, chefe político, uma espécie de prefeito hoje, e o próprio Pedro II, mandou soltá-lo e disse que a culpa era dele) e de Pilar ao Engenho Pau D'Arco no dia 27 de dezembro de 1859 (onde foi recepcionado pela família do futuro imortal Augusto dos Anjos, que nasceria em 20 de abril de 1884) e daí até Mamanguape ( o Imperador ficou hospedado na casa do Dr. Antônio Francisco de Almeida Albuquerque (onde atualmente é o Paço Municipal).
E de Mamanguape, ele veio para o Engenho Gargaú, onde foi recepcionado por Joaquim Gomes da Silveira, dono do dito engenho (fica depois de Bebelandia e antes do Aterro na PB que vai para Livramento e a Forte Velho, atualmente), em Santa Rita e daí para a Capital.
É bom lembrar de que o soberano visitou em 1859 o Engenho Maraú, na época de propriedade dos Monges Beneditinos e que sua comitiva, ainda que por dedução era composta apenas por homens, uma vez que a Imperatriz ficou na Capital.
Por outro lado, a capela do Desterro ainda não existia, uma vez que ela é de 1869, sua construção vem com a Lei das Terras.
E onde estão as goteiras do capelato do Desterro?
Estarão novamente daqui uns dias visíveis com a força do vento soprando sobre seu telhado centenário como uma espécie de "mar" revolto, exposto sobre um dos montes existente na várzea do rio Paraiba e a caatinga, capela vista de longe como lenço branco tremulando ao vento e desejando paz e saúde aos seus fiéis devotos ativos e passivos que acendem velas no chão do copiar encostadas nas paredes.
Ainda bem que o padre Salvador, uma espécie de arauto do evangelho dos tempos modernos, pede socorro via vídeo para as goteiras serem tiradas e a senhora devota, romeira e educadora Maria do Socorro, irmãs e familiares, faz a limpeza do altar ao chão cheio de estrume das corujas visitantes, uma espéciede romeiras permanentes ao referido Santuário.
Viva os romeiros e romeiras de Nossa Senhora do Desterro!
Não conte tudo agora, nem que arrombaram a capela referida e levaram dois ventiladores que foram doados por um romeiro caridoso...
Os votos e graças alcançadas são incontáveis.
Deixe as goteiras para trás, enquanto as novas não chegam.