Heloísa Não Participou da Aula de Canto Hoje

Levantei empoderada. Vesti a roupa daquelas, coloquei o par de brincos de cristal, e o anel de ametista. Não é do meu costume estar tão entusiasmada para me arrumar.

Depois do café, peguei a bolsa e dirigi-me ao carro, que estava na garagem. Como sempre, nem dando liga para a lassidão da fadiga muscular que sinto diariamente. Afinal. Iria levar minha filha para aula de canto,ela está se descobrindo na arte.

Por ser Heloísa, diabética, levava na bolsa, o arsenal de "guerra". Os teréns , primeira necessidade; Insulina rápida, bala para caso de hipo, buscoito, o sensor libre para medir a glicemia, até o glicosímetro de fitinha, caso fosse necessário comparar os níveis com ele, em relação àquele primeiro.

Ia junto, até a linha e agulha para fazer um crochê, enquanto ela participaria da aula.

Dependo da cadeira de rodas. Então, para ir até o carro, foi com a cadeira de uso na residência até ele. Havia outra no porta malas para locomover-me nos destinos.

Ia para aula de canto da filha.

Assim que levantei da cadeira, medindo os passos para manter o equilíbrio para não cair, escorando na parede, e em barras de apoio, abro a porta e sento no banco do motorista, pego uma perna por vez, e ajeito no assoalho do carro. Fecho a porta. Ligo o carro, enquanto a filha leva a cadeira de toda de volta, entrando e sentando no banco traseiro do carro. Passo dirigir como pilota de avião.

A manhã estava convidativa; início do outono. Com o clima ameno, levava o ar para os pulmões de maneira graciosa enquanto dirigia, sentindo o vento bater em meu rosto.

Sentia-me viva, o melhor da estação em mim, dirigia o veículo conectada a tudo.

Havia urinado antes de sair de casa. Acontece que ao chegar no destino, veio a vontade , ainda não haviam aberto o local ao público.

Estaciono em uma vaga disponível próximo. Uma loja. A filha desce, pedindo para a funcionária dentro da loja, que fosse até o carro, que sua mãe, cadeirante, precisava usar o banheiro, precisava fazer "xixi".

A moça chegou até o carro e disse: " O banheiro está quebrado", não podemos emprestar.

Respondo: " mas, por favor, é somente xixi, não tem outro lugar aqui perto, estou quase fazendo na calça! Como vocês tem feito para irem ao banheiro?

Ela deu um sorriso discreto, e disse:

--- então, é que a gerente não está aqui.

Neste instante, percebi que havia algo a mais dela não permitir usar o banheiro.

Olhei nos olhos dela, e falei: Você não esquecerá deste ato seu, você se lembrará...estou muito necessitada de usar um banheiro agora. Obrigada

Dei partida no carro, com receio de outro lugar se negar permitir usar o banheiro, e minha condição de cadeirante, com movimentos lentos e comprometidos de locomoção, resolvi voltar rapidamente para casa, cancelando a ida da Heloísa na aula de canto.

No retorno, voltamos quietas. Cheguei, fiz o uso do banheiro de casa.

Fui diferente no emocional, sem ressentimentos. Aprendizagem.

Afinal, o erro do outro, ou o aparente defeito do outro, no holograma universal da criação, é o reflexo dos nossos, e dos nossos julgamentos daquilo que é certo ou errado.

A manhã não deixou de ser prazerosa. Heloísa brincou com sua amiga, a xará Heloísa.

E eu, atualizei meu bate papo com minha irmã Carla

Terão muitos sábados de aula de canto para Heloísa ir.

E o caminho do discipulado continua.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 29/04/2023
Reeditado em 29/04/2023
Código do texto: T7775943
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