[O Caderno Preto do Britto] 02 - "TONICO"
Tonico tinha um riso alto e engraçado. Tinha um bigode “anos 70” e um bonezinho do surrado, do Flamengo… e a blusa do Flamengo também. Um bando de moleques joga um futebol em frente a barraca e a bola acaba caindo na mesa, derrubando todos os caranguejos, sujando o acarajé da Regina e chacoalhando a cerveja. Mas Tonico não se importava. Se levantava e se infiltrava na pelada dos meninos, conseguindo fazer até DOZE embaixadinhas (mesmo de ressaca), arrancando aplausos da meninada e também gritos do mulherio na beira da praia. (…) Anoitecendo… Tonico adquiriu um tom sério, um olhar perdido… E as pessoas falando de suas vidas… Mulheres, homens, filhos, amigos, amores que se foram… A praia ficou deserta. Tonico ainda estava lá, deitado no chão da barraca. Fazia muito frio, e Tonico pediu um caldo de feijão. Tirou a camisa do Flamengo e pôs no ombro. Deu um longo suspiro…E então, uma última golada no que quer que estivesse bebendo. Saiu andando… sem nada a dizer. Ele andou em direção ao mar e sua silhueta foi ficando pequena, pequena e pequena… Até que Tonico sumiu entre uma onda e outra… sumiu nas águas… desceu num mergulho e jamais subiu… afogado em seu bigode anos 70. Afogado em seu Mengão… Afogado em seu sorriso constante… Que disfarçava a tristeza.
(H.B)