Encontro do aluno com o mestre
A Igreja de La Madonna dell'Orto ficava no sestiere de Cannaregio. Um dos bairros do centro histórico de Veneza. Na igreja ficava o túmulo de um dos grandes mestres Tintoretto. Foi ali que eu o encontrei. A pose era a que sempre fazia ao analisar uma pintura. Mão sobre o queixo e a cabeça levemente inclinada para o lado. Concentrado, olhava o túmulo.
A primeira coisa que notei ao vê-lo de costas foi a leveza, não só pelas roupas leves que usava. Trazia um ar leve. Pensei que finalmente ele havia conseguido se restaurar.
Vi o que fez com o Ticiano na Accademia, ele me disse sem se virar, fez um excelente trabalho.
É... Eu aprendi com o melhor, eu o respondi.
Eu o chamava de mestre ou professor nunca pelo nome. 14 meses atrás devido à natureza do trabalho que o fez se afastar das restaurações, ele havia sido baleado no peito e quase perdeu a vida. Até hoje, sofria com algumas sequelas desse atentado. Eu queria ter estado perto para ajudar. Me aproximei dele e ele se virou para mim. Nos cumprimentamos com um abraço.
Estávamos bem diferentes. Mais velhos, embora ele estivesse mais conservado. O cabelo havia crescido cabelos escuros com a têmpora grisalha. Já eu tinha os cabelos grisalhos e minhas têmporas estavam com mechas brancas. Ele era mais velho dez anos que eu.
Espero que tenha abandonado o “Serviço”, professor.
Ele sorriu. Eu também espero. Me respondeu. Chiara, continuou, se juntou com meu antigo amigo e patrão para cuidar de sua empresa de restauração, o combinado é que ela assuma de vez quando ele se aposenta. Ela espera me contratar.
Enfiei as mãos nos bolsos do terno e sorri. Respirei fundo. Estava feliz. Não só por ver meu antigo professor, o homem que me ensinou o que sei sobre restauração, mas também por ele retomar o que mais amava.
Então, pelo que sei perdi meus trabalhos futuros em Veneza.
Nós dois rimos. Ele colocou a mão sobre meu ombro e fomos para saída.
Na verdade, Argov. É justamente o contrário...
Wesley Rezende