O homem de barro
Um dia, de um monte de barro, ergue-se um homem, um homem de barro... E ele abriu os olhos e viu, sorveu o ar, respirando, sentiu o sol lhe bronzeando, moveu as pernas e andou...
E o homem de barro correu pela campina, subiu em árvores e conheceu os animais: papagaio, urubu, gato, onça, cobra e coelho... e a muitos outros animais conheceu o homem de barro, mas não aprendeu os nomes...
O homem de barro andou entre os homens humanos: uns brancos, uns negros, uns amarelos, uns nenhum nem outro... todos humanos... E o homem de barro sorriu: o homem humano também veio do barro...
O homem de barro, um dia, deixou que uma ventania o levasse para que visse o que havia aonde o vento o levasse...
E o homem de barro voou e atingiu as nuvens do céu azul – ele aprendera que o céu era azul – e ele gostou do azul... Subiu, subiu, subiu e, do alto, o homem de barro viu mais azul, não nas alturas onde estava, mas no chão que deixara...
Então o homem de barro lentamente desceu e chegou até a praia. A praia era areia, e o homem de barro sentiu-se bem, não pela areia que pisava, pois nem mesmo a notou, o homem de barro estava encantado pelo mar...
O homem de barro não conteve o desejo avassalador de entrar nas águas azuis do mar - ele gostava do azul - e o homem de barro correu para o mar, o homem de barro correu pela última vez... o homem de barro desmanchou-se no mar... o homem de barro desmanchou-se no azul...