CONTO VERDADEIRO - PARTE 1
PELAS COSTAS
É... foi pelas costas que te conheci.
Confesso que te admirei sem mesmo ver a sua fisionomia, pois algo em você me chamava a atenção: seu jeito de se mover, a sua coluna sempre reta, o seu pescoço inclinado sem estar abaixado, a sua cintura e o seu quadril, tudo isso denunciavam o corpo de uma mulher perfeita.
Me intrigava essa comunicação do seu exterior com o que estava atrás de você, pois era como se você tivesse olhos nas costas e podia assim ver tudo.
Enquanto ela estava nessa posição, junto ao quadro anotando alguma coisa, os meus olhos se atreviam a observá-la, então eu pude perceber que ela possuía muita destreza com as mãos e manuseava muito bem, as folhas de uma apostila do curso com bastante rapidez.
Bastava um breve movimento dela, insinuando uma virada de posição, o meu rosto logo se posicionava de maneira tão reta e próxima a cadeira, de forma a cegar os meus olhos.
Quando tive que devolver a folha da lição de uma prova, você me parecia ser transparente, como que se eu pudesse assim enxergar a parede atrás de ti, mas não vendo você.
E assim passaram-se alguns dias...
A vontade de te olhar nos olhos era muito grande, porém o meu medo da sua recepção era maior.
Eu preferia continuar com esta imagem, a de uma mulher maravilhosa, vista e desejada mesmo que de costas, do que ter que conviver com uma decepção de rejeição, logo no primeiro olhar.
Todas as vezes que eu saía de casa pra aula, carregava comigo dois sentimentos: o medo e a decepção. Ambos me geravam as mãos frias e trêmulas, como o sentimento de um adolescente, que na verdade pra mim o era, porque ainda não havia experimentado tal sentimento, era algo verdadeiramente diferente.
Nunca havia conhecido até então, uma mulher que me fizesse elevar meu pensamento a Deus e desejar tê-la pra mim, dizendo:
"Ah meu Deus... se essa mulher fosse minha, eu deixaria tudo da minha vida só para viver com ela!" Quando digo 'deixar tudo na minha vida', eu me referia aos vícios, em especial o da bebida que era o que mais estava me matando.
Eu tinha um casamento que já não existia há muito tempo, e com isso o meu vício na bebida dava-se pelo desencanto desse relacionamento, sempre sendo sustentado, apenas pelos pilares das responsabilidades e obrigações. (não preciso usar isso como desculpas).
E foi assim que a luz começou a acender na minha vida.
CONTINUA...