Tony acordou…

Haviam três pessoas com ele naquele quarto de hospital, sua mãe, seu pai e um médico. Seus pais tinham lágrimas nos olhos, Tony não conseguia entender o por que. Seus pés e mãos estavam doloridos e pareciam inchados, seu corpo parecia pulsar. “Mas que p…?”.

 

– Tente não falar agora Tony… – Disse sua mãe enquanto acariciava sua mão direita.

– O que aconteceu? – Seus pais se entreolharam como se votassem em silêncio quem seria a pessoa melhor para contar o ocorrido.

 

– Bem… – Disse seu pai dando um passo à frente. Afastando sutilmente sua mãe da cama.

– Você sofreu um acidente de carro no dia quatro de abril de 2003, filho. Os médicos fizeram um ótimo trabalho com você! Você está pronto pra uma nova vida com algum tempo de fisioterapia e nada mais!

 

– Em que ano estamos? – Tony perguntou sem querer muito ouvir a resposta da pergunta.

– Bem… Olha filho… Estamos em 2015. Mas não se preocupe! Quase nada mudou!

 

Os pais de Tony se abraçaram emocionados e deitaram suas cabeças sobre seu corpo. Mas Tony não conseguia esboçar de forma alguma a mesma empolgação…

 

– Tudo bem, tudo bem… gente, Ok. Mas… cadê meu filho? Cadê o Marquinhos? Um silêncio assombroso se fez no quarto.

– Tony… É que…

– FALA LOGO!! CADÊ MEU FILHO?

– Mas… Tony é que… Você NUNCA teve um filho! Do que você está falando!? – Tony olhou em sua volta, atordoado tentou se levantar, mas caiu de fraqueza em seus travesseiros chorando e soluçando compulsivamente.

 

– PAREM DE MENTIR PRA MIM! Ele morreu no acidente?! Meu filho!! Meu filho…

– TONY!! Amor, você não teve filhos, nem mesmo foi casado! – Insistiu sua mãe tentando segurar em vão os braços do filho.

 

Tony se debatia na cama, enlouquecido de desespero e tristeza. Logo uma enfermeira e dois enfermeiros chegaram. E como se já esperassem por todo tipo de problema, seguraram Tony e aplicaram-lhe uma injeção no braço, fazendo-o dormir imediatamente. “Um neurologista de plantão e um psicólogo já estão a caminho senhor…” – Disse a enfermeira tentando um sorriso amarelo, como se tivesse treinado no espelho pra isso.

 

Em duas noites seguidas Tony se calou, parecia sereno… Não havia revolta, ódio ou tristeza no seu semblante. Apenas uma calma… A calma que de quem não estava presente… E na madrugada do terceiro dia, nem neurologista, ou pai, psicólogo, psiquiatra ou mãe, enfermeira e ninguém conseguiu chegar a tempo de impedir Tony de morder e engolir sua própria língua… Tony agonizou com a língua presa na garganta, até finalmente encontrar uma… nem tanto assim; … uma nova vida.

 

Seus pais devanearam em luto pra sempre, por todos os anos seguintes… Sentados de frente um pro outro, conversavam sobre o encontro de Tony com o filho Marquinhos, seu neto adorado. … que o aguardava ansioso. Talvez pra ir pra escola e não perder o horário do ônibus… Talvez pra assistirem juntos um filme, comerem um sanduíche na rua, talvez até pra fazerem as pazes em alguma briguinha qualquer… Talvez além dele houvesse uma também uma mãe, namorada e esposa, uma vida criada no mundo paralelo de uma mente em coma. Talvez Tony tenha desafiado a morte, enquanto dormia… E em cada soluço sem ar, anúncios dos segundos no relógio na parede fossem como trombetas que anunciavam a chegada.

 

“O mundo está doente lhes digo… A ausência do amor é pior que qualquer inimigo… / O pai se desespera vendo seu filho em agonia…E a mãe chora, mas depois se conforma tal qual fez Maria. / Ora, mas o sofrimento físico é TÃO POUCO, diante deste mundo louco! / Perigo de se ver sangrar… no leito da própria sorte. / Pois, nem haverá na vida, amor… pra quem não se sujeita ao perigo. / Entender que no mergulho da morte… talvez haverá abrigo.”

 

(H.B)

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 12/04/2023
Código do texto: T7762015
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