O teatro e a beata

Na Ribeira velha, Natal, fica o Teatro Alberto Maranhão - o nosso belíssimo teatro centenário de estilo arquitetônico art nouveau. Em frente ao teatro, fica a antiga rodoviária velha. Estudando no Colégio Atheneu, eu costumava pegar o ônibus de volta para casa na velha rodoviária. Era lá onde chegavam e saíam os ônibus vindos do interior e de outros estados. Vez ou outra, eu percebia que muitos migrantes vindos do interior do estado se benziam ao passarem em frente ao teatro.

Certa vez, eu vi uma senhora se benzendo fervorosamente e disse: "A senhora vai para o inferno. Isso não é uma catedral, é um teatro." A senhorinha, na sua ingenuidade de quem nunca viu o mar e muito menos um teatro imponente, perguntou: "E o que tem aí dentro, meu filho... não tem nenhum santo aí?". Respondi: "O que tem muito aí são demônios e fantasmas, muitos fantasmas. Conta-se que as almas das putas do cabaré de Maria Boa, as almas dos marinheiros do cais do porto e pessoal do bando de Lampião se reúnem aqui toda noite com cantores brega e atores já falecidos... uma coisa terrível."

A senhorinha soltou um "Ave Maria" bem alto, ajoelhou-se e começou a rezar. Eu me senti mal por ter feito aquela brincadeira. Me aproximei dela, pedi desculpas e contei a verdade sobre o teatro e sua história. Expliquei que era um local de cultura e arte, onde as pessoas se reuniam para apreciar peças teatrais, concertos musicais e outras apresentações artísticas.

A senhora agradeceu pelo esclarecimento e eu percebi que ela ficou mais tranquila. Foi uma lição para mim sobre como é importante compartilhar informações e evitar brincadeiras que possam assustar ou magoar as pessoas. Desde então, sempre que passo pelo teatro, lembro-me desse episódio e da importância de respeitar as crenças e sentimentos das outras pessoas.

Luiz Dezenove
Enviado por Luiz Dezenove em 10/04/2023
Código do texto: T7760180
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