Conversa e viagem ao passado
Eu sabia que viria e que era diferente... Mesmo assim é surpreendente... Eu queria tanto saber de algumas coisas...
Sento-me numa cadeira ao seu lado. Fecho os olhos e deixo o sol aquecer- me do dia frio.
Velho Pete. Não me faça perguntas. Há muitas coisas que você não entenderia. Sabe como dizem né, a ignorância é uma benção.
O velho fica em silêncio. Depois respira fundo e abri um sorriso. Seus dentes estão amarelados.
Tem razão, Aldine...
É estranho ouvir esse nome depois de setenta anos. O velho Pete era um garoto e eu um adulto bem experiente e esperto tentando sobreviver na América. Agora ele era o homem experiente, mas eu não era nem de longe um garoto.
Você guardou meu Cadillac? Pergunto tirando as chaves do bolso.
O velho Pete sorri. Coça o queixo enrugado.
Claro que sim! Eu e meu neto tentamos cuidar dele. Gastamos muito para manter o motor funcionando. Uma fortuna na verdade. Mas conseguimos. Venha ver....
Ele se levanta com dificuldade. Seus ossos de oitenta e nove anos são frágeis e qualquer movimento o cansa. Eu o ajudo. Junto com seu neto vamos até um galpão.
O Cadillac está coberto com uma lona. Ao descobri- lo antigas memórias me vem à cabeça. Pisando fundo e o Cadillac correndo pelas ruas de New York, as viagens cruzando o país e as brigas e tiroteios no sul. Posso ver antigas marcas tampadas de buraco de balas. A lataria perdeu seu brilho e um pouco de sua cor, mas ainda está bem conservado.
Fizeram um bom trabalho.
EU pego um pacote de dólares. E entrego para o neto do velho Pete. Os dois arregalam os olhos. Querem aceitar, mas a honra os impedem.
Fizeram um grande favor por mim. Isso não é nem o mínimo que merecem. Mas aceitem, por favor, não poderia ficar tranquilo enquanto se não aceitarem.
Eles pegam o pacote falando ser muito dinheiro. Sorrio e digo a eles que não me fará falta. O velho Pete segura meu ombro.
Que tal um café e uma conversa sobre o passado?
Proposta irrecusável.
Wesley Rezende