Um passeio pelo passado Parte 1
Eu havia ficado toda a madrugada no restauro. Ao terminar, o relógio marcava sete da manhã. Olhando o meu trabalho procurei por erros e retoquei algumas partes. Depois deixei o verniz secar e saí do museu, sob olhares surpresos dos vigias. Não sabia que eu estava lá durante toda a madrugada.
Depois de tomar um café com leite e comer um taco em uma lanchonete mexicana eu andei sem rumo, como um perdido, por Manhattan. Andei bastante, por algumas horas distraído e perdido em pensamentos. Pensei em outras vidas, na Atena que deveria estar em alguma aldeia na Síria e no rumo que minha vida havia tomado.
Red Hook ficava a sudeste do Brooklyn. É uma área portuária e industrial. Havia algumas coisas legais por ali, mas no verão era insuportável o calor, já que não havia arvores nas ruas. Tirei do bolso uma chave embrulhada por um papel amarelado onde havia um endereço.
Um homem jovem, de cabelos loiros, pele da avermelhada como barro usando um terno azul claro e um revólver em um coldre de ombro. Era eu e o ano 1950. Eu tentava sobreviver como um detetive particular. Era outra vida. Outra identidade. Um outro eu.
O apartamento ficava no terceiro andar de um prédio industrial de tijolos vermelhos. No primeiro andar um bar. Subi as escadas. O apartamento era pequeno, empoeirado com móveis cobertos por lençóis sujos. O cheiro era de guardado e mofo. Caminhei pelo aposento.
O sofá coberto, sujo parecia estar com um pé quebrado. Eu vi ali o detetive chegando cambaleando com a pele furada, virar um gole de uísque na boca e dormir ali. Também vi a moça que o remendava e depois o deixa ali. Quanto tempo havia se passado?
No espelho velho e descascado do banheiro o rosto do jovem loiro foi substituído. Um rosto de um homem de sessenta anos. Cabelos cinza com mechas quase brancas nas têmporas, o rosto marcado por rugas e olheiras. O novo eu.
Foi quando me lembrei da caixa de metal...
Wesley Rezende