A Abertura do Quinto Selo pintura de El Greco
Eu estava caminhando pelas ruas de Manhattan, próximo ao Centro Park respirando o passado.
Antes de ser um restaurador e quando eu possuía outra identidade eu andava por aquelas ruas como um detetive particular. Ainda me lembro do meu De Soto 1952 branco por aquelas ruas. Desvendando crimes, tirando fotos de maridos infiéis ou apenas ouvindo jazz e bebendo uísque em algum bar. Apesar de ter vivido em New York eu não gostava daquela cidade. Ela me sufocava com aqueles prédios altos e sujeira. Mesmo passado tanto tempo aquela sensação de sufoco permanecia.
Ao chegar ao museu minha mente se afastou do passado. Fiquei diante da tela A Abertura do Quinto Selo, do pintor El Greco. Comecei a anotar e fotografar os problemas da pintura. As cores envelhecidas, o verniz manchado e os contornos dos personagens.
Como já havia restaurado outras obras de El Greco, sua técnica já estava registrada na minha memória e nos meus dedos. Assim pouparia alguns dias. Depois de tudo pronto, me tranquei no estúdio. Fiz uma solução secreta pra poder remover o verniz sem danificar o quadro. Liguei o velho aparelho de cd. So What de Miles Davis começou a tocar.
Num instante, o estúdio sumiu, assim como o barulho das pessoas lá fora. Era só eu e a tela no cavalete. EL Greco estava atrás de mim, num canto da parede me observando em silêncio.
Eu o cumprimentei e delicadamente com paciência comecei a limpar o verniz. Era o processo mais chato. Com uma vareta e uma bola de algodão precisa passar com delicadeza e cuidado sem forçar a tela. Mas não me preocupei. Não estava sozinho. Um dos grandes mestres estava comigo.
Wesley Rezende