Uma noite no Mistery flowers
Uma coisa que se podia dizer do Mistery Flowers. Era um bar autêntico de jazz e bem receptivo.
Fui bem recebido pelos clientes e pelos músicos. Watanabe o pianista e Joe “Kawasaki” Slim o contrabaixista.
Eu subi ao pequeno palco. Os músicos foram educados comigo. Mas prepararam uma pequena surpresa. O pianista começou a dedilhar umas notas no piano. Eles queriam ver o quanto eu era bom ou se eu era realmente um musico. Eu sorri ao reconhecer aquelas notas.
Bye Bye Blackbird de Miles Davis. Esperei um pouco e entrei com meu trompete na deixa do pianista, depois foi à vez de Joe com seu contrabaixo. Mandamos bem. Tocamos como se nossas almas dependessem disso. Sem aviso o piano e o contrabaixo diminuíram o som e solei com meu trompete.
Depois foi minha vez de surpreender os músicos. Introduzi com meu trompete All of you também do Miles. O piano chegou comigo e o contrabaixo veio junto. Na nossa segunda música vimos que tínhamos certa sintonia. Era algo raro.
Acabamos deixando de lado o setlist e ficamos no improviso. Os clientes adoraram. Aplaudiam. Aos poucos paravam de conversar e se dedicavam aos seus drinques e a música.
Entre o ritmo e a nossa sintonia passeamos com nossa música. Bill Evans, Coltrane e Baker. Entre o solo de piano e do meu trompete deixávamos o público extasiado e hipnotizado. Parecia um transe louco.
Pra encerrar o show tocamos So What de Miles Davis. Ao acabar houve uma explosão de aplausos. Suor escorria pelo meu rosto. A respiração desregulada.
Fomos cumprimentados ao descer do palco e passar por entre as mesas. Nos reunimos num canto do bar e Yukio a namorada de Miyu, nos serviu uma rodada de uísque.
Era bom demais voltar a tocar depois de tanto tempo. Nos cumprimentamos e ficamos ali conversando como velhos amigos. Miyu se aproximou e me abraçou.
Convidou-me para tocar mais vezes. Eu aceitei e brindamos.
Wesley Rezende