Deus é In-Gênero
Será que Deus é realmente homem? Quando se olha para a criação, nota-se detalhes que não são o forte de seres masculinos. Todo amor contido em pequenas folhas de uma árvore, a dinâmica de uma formiga me faz lembrar a minha mãe. Ao observar o universo, vê-se mensagens não lidas, como é que o espírito protetor da leoa não significa nada para vocês?
Há milhares de anos, em terras longínquas, dois seres que por milénios manterá a vida e o corpo imaculados, decidiram então experimentar o amor, naquela época o amor de eros não era permitido para quem não pertencesse a realeza, por causa disso, ambos foram condenados ao exílio, ao homem foi-lhe acrescentado a pena de escrever poesias eternamente, à mulher, a declama-las todas até o fim da existência.
Durante o exílio, o casal vagueio pela terra sem direção nenhuma, enquanto cumpriam a pena pelo qual foram condenados, o homem escrevia a melhor das poesias, e a mulher as declamava com vontade. Quem ouvia ela, encantava-se com a linda voz que dava vida à poesias tão bonitas, e onde quer que passasse recebia ovações e grandes banquetes, enquanto que o parceiro de vida, recebia apenas migalhas, pois não sabiam que aquelas lindas poesias eram de sua autoria. Assim, o que era pra ser um castigo, pra ela tornou-se uma bênção, pois não existia na terra ser que não a conhecesse, dentro do seu coração ela agradecia por aquilo dizendo, embora não tenha um lugar a que possa chamar de casa, me sinto confortável em qualquer terra que piso. Já ele, xingava tudo e todos por não darem-lhe o devido mérito. Até que decidiu ter à audácia de não mais escrever, porque sentia-se cansado com toda aquela injustiça. Então quando chegavam em terras novas, embora já conhecessem a fama da bela jovem com a linda voz que declama lindas poesias, as pessoas enchiam as alamedas embelezadas com ouropel para ouvi-la, na expectativa de ter uma confirmação dos rumores, ela incapaz de se apresentar para o agrado de quem a esperava porque não tinha poesias para declamar, percorria por aquelas ruas cheias com a cabeça baixa, os aplausos foram automática substituída pela desilusão, e já não mais serviam grandes banquetes, as poucas pessoas que se compadeciam com a tristeza da jovem, ofereciam para ela as migalhas dos seus banquetes, não eram nada comprados com as mesas recheadas com que ela se acustumara, mas ainda assim, era suficiente para matar a fome. A alma dele encheu-se de alegria por ver a sua parceira a experimentar o desamor que o levou a se rebeliar, até perceber que se as migalhas eram para ela, para ele nada mais restava. Tinha então que escolher entre, viver a injustiça ou padecer de fome.