Último vagão
“- Ok, vamos marcar então.
- Pode ser um cineminha?
- Claro! Combinado!”
Ela sorria em saber que ele havia guardado a mensagem por tanto tempo, sem pensar em deletar. Ele manteve contato com a maioria do grupo nos últimos seis anos, mas com ela, depois dessa última mensagem trocada despretensiosamente, a proximidade perdeu-se sem motivo, por intervenção do universo que, tal qual criança apronta das suas, ou simplesmente pela troca do número do telefone.
Ele, havia se mudado da baixada para a Lapa, os dois primos, cursando faculdade na Bahia e Mônica, embora morando ainda no mesmo endereço, também na baixada, andava com uma rotina de trabalho exaustiva e quase não aparecia nem mesmo em redes sociais.
O encontro dos dois aconteceu por acaso, dentro do Japeri. Ele seria capaz de reconhecê-la por maior que fosse a distância. Vislumbrou os longos cabelos da amiga no vagão ao lado. No mesmo minuto foi capaz de sentir-lhe o perfume. Contou-lhe do filho nascido há dois meses, das escovas de dentes unidas há pouco mais de um ano e do novo emprego. Ela ouvia com atenção e com a aquela sensação de que o tempo tivesse parado por puro capricho. Nada havia mudado, eram as melhores conversas e os sorrisos mais espontâneos bem ali na passagem entre um vagão e outro, entre um senão e outro.
Suas mãos entrelaçaram-se por um instante. Estação terminal Central do Brasil.
- Ok, vamos marcar então.
E o tempo voltou a passar.