Dias difíceis quando tia Cida  adoeceu. Eliana a via sempre tão forte e era como uma árvore plantada no meio da família, e seus galhos, cheios de seiva, alimentavam tantas almas doloridas.
Na sua última visita para a tia veio uma lembrança terna: estavam a tomar um chá da tarde na sala, quando  ela se  levantou  e, amparando-se em seu andador,  alcançou a mesinha do canto da sala  e pegou um livro. Estava encapado,  impossibilitando se ver o título. Entregou para Eliana e disse:

- Querida, esse é um presente que gostaria que você levasse.  Quando eu não estiver mais aqui, leia, mas por enquanto, guarde-o. Eliana segurou-o  passando a mão naquela capa macia sentindo uma espécie de tristeza e curiosidade.  Seria esse o  prenúncio de sua última visita? Seus pensamentos foram interrompidos quando a família toda se levantou indo em direção a capela onde seria feita uma cerimônia apos a cremação.

 

Já em casa, resolveu tomar um banho quentinho, vestiu seu pijama e se enfiou em baixo das cobertas. Suas mãos alcançaram o livro que  estava esperando por ela.  Qual foi sua surpresa ao constatar que aquilo que ela pensava ser um ser um livro, tratava-se de um diário escrito à mão.  Começou a ler e percebeu que aquela seiva que a alimentou tanto em muitas situações da vida, estava ali em suas palavras vivas,  conselhos para diversas situações pelas quais ela mesma havia passado. Na última página, escreveu: "Lembre-se que na vida tudo passa"... Eliana abraçou-o de encontro ao peito.  Havia aberto o livro da vida e daquele momento em diante  este seria seu diário de bordo para navegar seus dias pela frente.

 

 

Tema: Abra o livro (Conto)

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 21/03/2023
Código do texto: T7745422
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