RUA DAS MAGNÓLIAS, 41 (BVIW)

Às 9 da manhã, o interfone tocou. Maramália foi atender. Era o carteiro em sua bicicleta amarela. Da pesada bolsa de couro, com timbre da empresa, ele sacou um pequeno pacote, que entregou à moça. Ela assinou o recibo, entrou em casa intrigada. Que coisa estranha... Não estava esperando encomendas. Tentou repassar mentalmente o que pudesse ser. Não se lembrou de nada.

Maramália depositou o pacote sobre a mesa da copa. O papel pardo tinha carimbos de uma cidade que não conhecia. O remetente também não lhe era familiar. Quem poderia estar lhe enviando tal correspondência? Seria algum engano? Seu nome, raro, por sinal, e seu endereço — Rua das Magnólias, 41 — grafados sem erros, não deixavam qualquer dúvida. E se fosse algo perigoso? Uma bomba, talvez... Mas poderia ser também algo muito bom, quem diria que não? O jeito era abrir.

Pegou a tesourinha, foi cortando devagar o papel grosso e resistente. Deu com uma camada de plástico bolha, fortemente protegida com fita adesiva. Com certeza era algo delicado, com risco de se estragar. Foi cortando com toda a calma, até que distinguiu um objeto retangular, talhado em madeira antiga — uma caixa com um fecho dourado. Girou o pequeno gancho. Acomodado sobre papéis amassados, ela viu o livro. Tinha capa preta, porém sem título algum. À parte, em recorte de papel avulso, ela leu: “Abra o livro”. Um calafrio a percorreu. Que mistério era aquele?

Maramália estava com medo, mas prosseguiu. Ao tentar puxar a brochura do fundo da caixa, o espanto maior: entre seus dedos, apenas o vazio — o livro negro não existia.

Tema da Semana: Abra o livro (conto)