O FANTASMA DE LAURA

 

 

Henrique sempre levantava cedo, dirigia-se para o banheiro, mas antes chamava por Laura, sua mulher, perguntando se o café já estava na mesa.

 

- Lau, bom dia, querida! Já aprontou o meu café?

 

Não ouvia resposta, mas aasim que fazia o asseio ia para a mesa e lá estava ela posta. O pãozinho assado na manteiga e o queijo também assado, do jeito que gostava. Os pedaços de melancia e o leite para por no café. Diariamente era essa mesma cena, uma situação praticamente natural na vida de Henrique, um idoso com seus 68 anos. Após a refeição matinal ia para o terraço e lá ficava por horas, lendo algum livro ou apreciando o jardim bem cuidado por um serviçal. Quando precisava de alguma coisa chamava Laura, sua esposa querida, aquela por quem dedicou todos os anos do seu relacionamento com ela.

 

Era uma manhã quente de verão quando Henrique conheceu Laura, uma linda garota por quem logo se apaixonou. Ambos eram jovens ainda, desfrutavam de um lazer em um clube de campo em uma cidade do interior. Laura não cabia em si de tanta felicidade, era o primeiro amor de sua vida. Começaram a namorar, ele com dezoito e ela com 17 anos de idade. Entre namoro e noivado foram cinco anos, até se casarem, tendo nessa união dois filhos, um casal. Viveram felizes durante quase trinta anos, os dois filhos se casaram, o rapaz foi morar no exterior com a esposa e a moça mudou-se para outro Estado com o marido, ficando o casal sozinho, apenas em companhia de uma antiga empregada que era considerada como da família.

 

Henrique aposentou-se quando tinha 60 anos, apresentou um pequeno problema de saúde, mas nada que pudesse causar preocupação, já Laura teve um problema mais sério e teve que ficar internada por vários dias, o que deixou o marido bastante preocupado, eles se amavam muito e ele não admitia ficar longe dela nem um minuto, o tempo todo estava ali do seu lado no leito do hospital. A doença da esposa se agravou e Henrique caiu em tristeza profunda, o que agravou também a sua saúde. Sem poder mais ficar ao lado de Laura, já que precisou de atendimento especial, teve que ficar em casa aos cuidados de uma enfermeira, porém sempre perguntando pela amada. A doença de Laura infelizmente se agravou e ela foi a óbito, o que deixou Henrique desesperado ao ponto de não acreditar no que aconteceu. Começou a ter alucinações e dizer que conversava com Laura. Os filhos que vieram para o sepultamento da mãe tiveram que retornar e o pai ficou aos cuidados da empregada de confiança e de uma cuidadora.

 

Passaram alguns meses, Henrique estava mais calmo, estava também melhor da saúde, o grande problema, no entanto, era a sua persistência em dizer que Laura não morrera e que vivia ali naquela casa, ela lhe servia todos os dias o café da manhã, era ela quem lhe servia algo quando estava no repouso do terraço, Laura era quem preparava o seu almoço e o jantar, tinha ciência disso, ele a via. Estava sempre afirmando isso. A familia não o internou porque ele apresentava um quadro de tranqüilidade, apesar de falar sempre de Laura, mas na verdade quem fazia tudo por ele era a empregada de confiança e em alguns dias da semana a cuidadora. Laura era apenas uma figura que passou a fazer parte do dia a dia da casa e isso fazia bem a Henrique.

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 20/03/2023
Código do texto: T7744541
Classificação de conteúdo: seguro