Nem se fosse um bilhete de loteria premiado justificaria tanto amor por aquela garrafa. O jeito com que a tocava e sua predileção por aquele objeto decorativo posto à cabeceira da cama, sempre foi um mistério para Stela.

Desde que se casaram, ele mantinha aquele objeto como se fosse um patuá. E toda vez que se entristecia, partia para a janela do quarto e ficava observando o mar enquanto a segurava nas mãos. 

- Se fosse uma lâmpada do Aladim, talvez entenderia - provocava Stela. Mas ele permanecia imóvel. Nunca foi de revidar. 

Stella, porém, sempre desconfiada, já tinha lavrado a ata que sentenciava, o cito marido, como o homem que guardava lembranças de um amor partido. Pensou em divórcio.

Mas, antes, contudo, resolveu observá-lo pela fresta da porta, afim de impor-lhe, o veredicto. E como quem visse um fantasma, deu de cara com a realidade: a garrafa que tinha uma pintura de areia, escondia o vício de Ricardo, alcoólatra em remissão que, apesar da promessa feita, fugia de si. A cena era pior do que cria.

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 14/03/2023
Reeditado em 16/03/2023
Código do texto: T7740068
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