Nem se fosse um bilhete de loteria premiado justificaria tanto amor por aquela garrafa. O jeito com que a tocava e sua predileção por aquele objeto decorativo posto à cabeceira da cama, sempre foi um mistério para Stela.
Desde que se casaram, ele mantinha aquele objeto como se fosse um patuá. E toda vez que se entristecia, partia para a janela do quarto e ficava observando o mar enquanto a segurava nas mãos.
- Se fosse uma lâmpada do Aladim, talvez entenderia - provocava Stela. Mas ele permanecia imóvel. Nunca foi de revidar.
Stella, porém, sempre desconfiada, já tinha lavrado a ata que sentenciava, o cito marido, como o homem que guardava lembranças de um amor partido. Pensou em divórcio.
Mas, antes, contudo, resolveu observá-lo pela fresta da porta, afim de impor-lhe, o veredicto. E como quem visse um fantasma, deu de cara com a realidade: a garrafa que tinha uma pintura de areia, escondia o vício de Ricardo, alcoólatra em remissão que, apesar da promessa feita, fugia de si. A cena era pior do que cria.