_________________Ismália

 

 

      Depois de meses saindo juntos, Ismália caiu de amores por Israel. O corpo fervia, o sangue gritava, a alma suava... Mas o moço era um enigma. Ora era conquista, ora era terreno neutro e insondável. Israel era, sim, agente duplo. Jogava para não perder, recuava para não se prender. Ismália ouvia a mãe:

      — Larga desse moço! Ele é leso, quem não vê?

     Mas a menina, tomada de amores, sempre capturava mais alguma esperança. Sofria pelos recuos; exultava com  ambiguidades que sustentassem qualquer último fio de vida para os dois. Ah, aquelas coisas estranhas soltas no ar...

      Correu o tempo.

     Certo dia, a mãe deu com a moça deitada na cama, o olhar perdido na lua bisbilhoteira, que assuntava o quarto: Israel tinha partido para Israel — de onde nunca deveria ter saído.

      Foi depois dessa noite que Ismália enlouqueceu.

 

 

Tema da semana: Ambiguidade em Cena (conto)