A Professora

Eu não era menino, não.  Ao contrário, já passado dos trinta e cursando uma Faculdade de Letras; mas a minha professora de Língua Espanhola, Suelen, era linda e inteligente, o meu calcanhar de Aquiles. Estava escrito: eu tinha que me apaixonar por ela!

     E me apaixonei. Ridículo: 35 anos, casado pela segunda vez, apaixonado sem esperanças pela professora da Faculdade! Mas, me digam, por favor, qual é o apaixonado sem esperanças que não é ridículo?

     A professora Suelen tinha um sorriso esplendoroso, rosto, seios e pernas de endoidar qualquer marmanjo, mas era séria, de reputação inatacável e casada, nada mais, nada menos, com um filho de um figurão político maranhense. Estrela completamente inatingível para um simples bancário e professor, e, além disso, naquele tempo, detentor de um nada invejável currículo: bebedor contumaz e frequentador habitual de puteiros.

     Mas, sem esperanças, silenciosamente, devotamente, durante todo o tempo da Faculdade de Letras eu amei Suelen, mesmo quando, a partir do 7º período, ela deixou de ser professora da nossa turma. Quando eu a encontrava pelos corredores e ela, com aquele sorriso terrivelmente encantador, exclamava: “Olá, Antonio Maria”, meu Deus, meu coração pulava literal e perigosamente disritmado!

     Um dia, quando eu estava prestes a terminar a Faculdade, estourou o escândalo: um telefonema anônimo fizera o marido de Suelen, alto funcionário público em Brasília, aparecer repentinamente em São Luís para flagrar a minha diva, de quatro, em plena ação de sexo anal com um seu aluno da Universidade! Não houve tiros nem pancadaria, que isso é coisa de corno pobre. Separaram-se os corpos, e ela simplesmente recolhera-se à sua casa de campo, enquanto um pedido de divórcio, naturalmente amigável, pousava discretamente na mesa de um juiz conhecido dos cônjuges.

     Nesse dia, tomei um porre monumental. E dizem os colegas que já pra-lá-de-Bagdá, eu esbravejava colérico, esmurrando a mesa:

     - Vagabunda! Vadia desgraçada, tu me traíste!

Santiago Cabral

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