Flanadas

- Bom dia! Você sabe onde fica o supermercado Ouro Negro? Eu estava no metrô com o meu marido, ele desceu lá e eu não consegui. Estava muito cheio e eu longe da porta. Só consegui descer aqui e estou perdida.

Fazia uma caminhada e uma senhora me abordou. Devia ter uns setenta anos e estava sem nada nas mãos, nem um celular. O supermercado que ela procurava era bem longe de onde estávamos. Uns dois bairros e duas ou três estações de metrô anteriores à que ela desceu. O Ouro negro que eu conheço está longe, a senhora saberia descer lá se eu a colocasse de volta no metrô? Não sei andar sozinha em Belo Horizonte não moça. Moro em Ravena e tudo aqui é estranho para mim. Mas se você me der o rumo do Ouro Negro eu chego lá a pé. Meu marido está lá. Mas como a senhora tem certeza que ele está lá? Se ele não estiver a senhora sabe voltar para casa? Não sei não. Mas ele sabe que eu não sei e vai me esperar.

Eu estava só com o celular. Mesmo se tivesse dinheiro para dar a ela não saberia se sozinha desceria na estação certa. Parei duas pessoas para compartilharmos a ajuda. Vocês sabem como chegar até a estação do supermercado Ouro Negro? A senhora explicou tudo de novo e tivemos a ideia de pagarmos um Uber e mandá-la de volta para Ravena. Eu não volto para casa sem meu marido. Só preciso que vocês me digam qual o rumo do supermercado. Eu tenho certeza que o meu marido está me esperando. Eu vim com ele, volto com ele. Eu, prevendo que não conseguiria fazer minha caminhada em paz sem ajudar esta senhora e lembrando que tinha um aplicativo do Uber no celular, dispensei as duas e disse que iria levá-la até o supermercado de Uber.

No caminho perguntei mais uma vez se ele estaria esperando. Claro que está, ele não me abandonaria sozinha em BH, ele sabe que eu ficaria perdida. Tentando entender como que ele a deixou descer sozinha do metrô já que era tão companheiro chegamos no Ouro Negro. Ela desceu do carro depressa e foi em direção a um senhor em uma cadeira de rodas, estacionado debaixo de uma árvore mexendo com o seu celular. Cheguei perto para ouvir a conversa. Nair, falei com o moço que estava perto de mim que ia descer no supermercado Ouro Negro e assim que as portas abriram na estação ele me desceu do metrô. Tentei falar que não poderia descer sem você, mas não teve jeito, ele não ouvia nada que eu falava. Só me empurrou para fora e me deu um tchau feliz por ter feito a boa ação do dia. Eu queria entender porque você foi para tão longe de mim lá no vagão. Ô lerdeza. Aposto que nem viu que eu fui descido do trem. E agora? Porque demorou tanto? Aposto que estava de conversa com alguém por aí. Como sempre você faz questão de me deixar esperando. E ainda deixa o celular para trás. Tentei te ligar várias vezes e aí que eu ouvi ele tocando na bolsa da cadeira de rodas.

Márcia Cris Almeida

03/03/2023