O VÔO DA MORTE

 

   Através das janelas do avião dava para perceber a escuridão lá fora, o barulho do motor era ensurdecedor, todos os passageiros estavam quietos. Em determinados momentos o barulho da aeronave cessava, ocasião em que os passageiros pareciam conversar, estavam todos de costas para mim, minha posição era na última fileira de assentos, porém a conversação era inaudível, mas a minha impressão era de que rosnavam ou emitiam sons parecidos, o que me deixava confuso e também preocupado. Minha cabeça doía e eu rezava para que essa viagem terminsse logo, depois de uma longa espera no saguão do aeroporto, onde cheguei a cochilar, sendo acordado por uma atendente que me levou até um guichê sendo depois levado para embarque. Ao adentrar a aeronave notei que as luzes estavam apagadas, existia apenas uma penumbra onde se vislumbrava os demais passageiros já acomodados em suas poltronas. Não dava para ver seus rostos, fui encaminhado para o final do corredor onde me sentei.

  

   O vôo transcorria normalmente, apenas esse detalhe do silêncio momentâneo do motor que me incomodava, seguido da conversa (ou rosnado, não sei) esquisita dos passageiros, voltando em seguida e fazendo minha cabeça doer mais ainda. De repente vi um forte clarão seguido de um estalo, deduzindo eu que foi um raio ou trovão acompanhado de um relâmpago, o que me assustou. Tremi dos pés a cabeça. Nesse momento o alto falante do avião anunciou que todos deveriam deixar o aparelho e se jogarem nas nuvens através da porta que se abria. Um a um todos obedeceram a ordem e pularam, menos eu que fiquei escondido atrás de uma poltrona no final do corredor. A voz insistiu para que eu também pulasse, mas me faltava coragem. Então a porta da cabine do piloto se abriu e dela saiu uma figura com vestes negras segurando uma foice de cabo longo. Deduzi: é a morte! Mandou que eu me jogasse também, momento em que gritei sendo acordado por uma funcionária da companhia aérea me informando que meu vôo estava na hora e que eu devia embarcar.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 24/02/2023
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