ÚLTIMA DANÇA
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Os meus pés se movem lentamente, completamente fora do ritmo da música. Deveria ter escolhido um hotel na romântica Paris, pois assim poderia observar a Torre Eiffel a brilhar lá fora para ser a última coisa a testemunhar, mas é tarde demais para isso. É tarde demais para tudo.
O jazz toma conta do cômodo com suas notas musicais melódicas. O quarto de hotel alugado é confortável o suficiente para me fazer retirar os sapatos e sentir a maciez do carpete. Estou a dançar enquanto as lágrimas caem dilacerantes e, os meus lábios tomam a forma de um sorriso débil. Pois eu já havia previsto aquela tragédia. É amarga, pesada e sombria.
Rodopio, fazendo a saia longa esvoaçar. O lustre acima de minha cabeça cintila e meus olhos ardem. Quero extravasar em choro, quero que minha alma se derreta enfim. Converso baixo com o Criador, e Ele me ouve com paciência. Espero respostas, mas não as encontro, ao invés disso, a melodia me atinge em
cheio. Danço solitária, rodopiando, chorando, gargalhando em desespero!
Em meu estômago sinto a náusea se formando, e a minha cabeça girando. Os efeitos dos medicamentos me fazem delirar, mas continuo a dançar junto do jazz melancólico tocando ao fundo. A ponte para o outro lado havia finalmente terminado sua construção dura e fria. A passagem não seria a das mais fáceis. Entretanto, continuo dançando mergulhada nas águas turvas da escuridão, enquanto meus pés me guiam para a luz forte do outro lado da ponte. O fim, simplesmente o tão desejado fim.
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