A Escavação Perdida.

No pouco tempo em que eu me encontrava fazendo uma escavação pelos lados de Salvador, mais, precisamente na Vitória, à conheci...

Era uma mulher de feições intrigante, morena, com atos carinhosos, porém, escondia uma natureza (segundo ela mesma), tão selvagem, capaz de matar no momento de raiva, libriana por descendência, rezava a doutrina de ser verdadeira. Quando fui chamado para fazer parte da escavação, meu primeiro contato foi com ela, que, logo me afeiçoei, mas, como toda história, depois de desvendada torna-se comum... Assim foi feito.

Com o passar dos meses, um ano para ser explicito, houve uma mudança sem precedente, com desvios de conversas, afastamento perceptível, de tal forma, que, contenho-me a não invadir sua parte na escavação, pois, percebo o incomodo à que atribuo a ela, e, o silêncio ao qual ela mantém entre nós.

Nas poucas vezes que conversamos, a minha velha pergunta ressaia:

- O que mudou?

A resposta sempre era a mesma:

- Nada é sua impressão.

Por ser uma pessoa de caráter impar, não consigo mudar para agradar, sendo assim, enquanto aprofundo-me nos mistérios desta civilização, que, o meu jeito de ser, minhas conversas, talvez até mesmo os gestos, agridam o universo destes personagens e da pessoa em questão, como meus pensamentos expostos, que, inevitavelmente é sem pudor...

Minha ex. uma vez disse-me:

- Sinceridade demais ofende...

Nesta escavação, onde a cada ruina, a cada fragmento da civilização, mostrou-me, que, talvez fosse bom ser demagogo, ser mudo, tanto quanto serventio de modo à dizer:

- Sim Senhor pra tudo.

Esta descoberta nos levou a um imenso mercado onde o centro da cidade era palco de tantos vendedores, pedintes, ladrões, fazendo jogos deliberadamente com outros sem personalidade, seguindo como gado direto para o abatedouro.

Dos poucos achados em civilizações anteriores, nada deixou-me boquiaberto diante desta "Rede" onde pode-se notar a limitação do seu povo, e, quando alguém destaca-se é ignorado, preso ou morto. Neste mesmo mapa, a imagem do Deus à quem tanto clamam, é o mesmo carrasco a quem pedem misericórdia...

Quanto a colega de empreitada, ainda gosto dela mesmo sem sentir reciprocidade no mínimo real.

No pouco tempo de escavação... Escavei nesse mesmo tempo, pouca cultura...

Texto: Escavação Perdida...

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 18/02/2023 às 06:31