Fim de tarde
Era fim de tarde, na sacada do apartamento. O sol lentamente se escondia atrás da colina. Baixando os olhos já pesados de tantas lágrimas que derramou, disse:
— Sinto que estou caindo em um poço que não tem fundo. Pegou o copo que estava na mesa, deu um gole, fez uma careta.
— Não, Ana. Não existe poço sem fundo. Deu um trago no cigarro, ergueu a cabeça e soltou um pouco de fumaça. Ainda com a boca cheia concluiu: todo poço sem fundo é uma passagem secreta.
Apenas uma pequena mesa separava os dois. Bateu com dedos para as cinzas caírem no cinzeiro. Fitou-a. Ela disse:
— Mas, Zé, para onde essa passagem secreta está me levando? Já não aguento mais este vale de lágrimas.
— Não sei, quiçá...tentou ainda uma explicação. Mas nada viera à cabeça. Apagou o cigarro, o sol se escondeu por completo e ela deu o último gole.
Ainda ficaram muito tempo ali, parados, discutindo a filosofia do sofrimento.