ADAMASTOR E AS DUAS IRMÃS (Parte 1/2)

 

PERSONAGENS:

Zuleika                     Zilda (irmã de Zuleika)

Adamastor             Padre Marcelino

 

   A rua deserta deixou Zuleika apreensiva, pela primeira vez sentiu medo, era uma noite sem lua e algumas lâmpadas de postes estavam queimadas. Pensou em apressar os passos, mas sentiu suas pernas não obedecerem, por mais que se esforçasse não conseguia, então manteve o ritmo que vinha. Já estava perto de casa quando vislumbrou um automóvel que parava na frente de sua residência. Instintivamente ficou atrás de uma pequena árvore, como a rua estava com pouca luminosidade ninguém a veria. Ficou só a observar. Dele desceu Zilda, sua irmã. Mas... de onde vinha? Geralmente a essas horas devia estar no seu quarto lendo algum livro ou dormindo. Ficou curiosa. Deu para perceber que o homem que dirigia beijou-a levemente no rosto, que desceu em seguida e fez um aceno para o motorista, que não dava para saber quem era devido a quase escuridão da área. Deixou a irmã entrar e em seguida adiantou os passos e ainda viu Zilda antes dela fechar a porta, que deixou-a aberta para que entrasse também. Ambas estavam curiosas, uma querendo saber para onde a outra foi, mas terminaram se explicando, Zuleika tinha ido para a casa de uma colega de trabalho que mora nas imediações, se demorou com ela por estarem tomando um vinho com petiscos, já Zilda falou o seguinte, já que não saía com freqüência: tinha ido a um pequeno shopping também ali nas imediações comprar uma blusa que tinha visto antes, já que trabalhava em uma loja desse centro comercial. Quanto a vir de carro ela explicou que estava namorando um rapaz, esse que a deixou em casa. Ambas moravam sozinhas e durante o dia a casa ficava fechada. Tudo explicado, ambas trataram de dormir.

   Zuleika trabalhava numa repartição pública federal, sempre que largava, às seis da noite, seu namorado Adamastor ia apanhá-la e dali algumas vezes iam comer alguma coisa em alguma lanchonete ou iam para o apartamento dele, que morava com a mãe. Passavam um tempinho lá e depois ele a deixava em casa. Tinham um compromisso sério e pretendiam se casar em breve, assim que se achassem financeiramente preparados para tal, afinal tinham pouco tempo de namoro, cerca de um ano, mais ou menos.

   A rotina de Zuleika era trabalhar de segunda a sexta, aos domingos tinha a missa que freqüentava na paróquia local com o Padre Marcelino, muito amigo da família, um homem já de meia idade e que havia feito o casamento de seus pais, já falecidos. No meio da semana ela e a irmã, por sinal muito religiosas, também freqüentavam a igreja para mais uma missa.

   Algum tempo se passou, as duas irmãs conversavam sobre suas vidas, sobre a intenção de se casarem. Zuleika falava muito em casar de véu e grinalda, um sonho de toda moça donzela, já Zilda, dois anos mais velha, não tinha esse desejo e pouco namorava. Agora que tinha conhecido um rapaz, mas que só o via uma vez por semana e assim mesmo no seu trabalho, quando faziam lanche ali mesmo, no shopping onde trabalhava, às vezes ela jantava com ele, só que o mesmo nunca mostrou interesse de ir até sua casa. Porém Zilda nunca se preocupou com isso, dizia que seu coração não era de ninguém e que não conseguia gostar de nenhum homem, se tiver que ficar para titia ficaria numa boa. Talvez até se casasse se encontrasse um bom partido.

   Era um sábado e Zuleika se preparava para se arrumar, Adamastor em pouco tempo chegaria para namorarem. Ele geralmente chegava às sete da noite e saía às dez, nesse período Zilda ficava em seu quarto, alegava que não queria atrapalhar, mas Zuleika notou de uns dias para cá que a irmã não estava aceitando bem a presença do cunhado, não sabia se era imaginação sua ou se era realidade, porém não se incomodou muito com esse detalhe. Adamastor vinha também nos domingos e às vezes nas quartas, demorando-se pouco alegando cansaço do trabalho.

   Certa tarde quando largou mais cedo do serviço Zuleika foi sem avisar ao trabalho da irmã, uma loja dentro do shopping do bairro onde moravam. Antes de se aproximar do local de trabalho da irmã ela viu quando Adamastor entrou na loja sendo recebido pela irmã muito eufórica. Ficou surpresa, mas aguardou para ver a reação entre os cunhados. Alguns minutos se passaram com ele lá dentro, dava para Zuleika ver que ele abraçava sua irmã, o que a infezou, mas ficou quieta. Em seguida ele saiu e a beijou na boca, seguindo para o estacionamento onde entrou em um carro que não era o dele, só que ela percebeu uma semelhança com o que deixou Zilda em casa uma certa noite. Muito chateada nem foi falar com ela, voltou e seguiu para casa, afinal já estava anoitecendo. Aguardou a irmã chegar para tomar satisfação. Jantou e Zilda ainda não tinha chegado. Ficou da janela só esperando a chegada dela e com efeito aquele mesmo carro parou na frente da casa. Zilda desceu, foi beijada pelo motorista, que com certeza era Adamastor, entrando em seguida. Ficou no sofá enquanto a irmã abria a porta sorridente encontrando Zuleika de cara amarrada. Perguntou o porquê e não teve resposta.

- Quem trouxe você? - perguntou Zuleika, ouvindo a seguinte resposta: "Meu namorado". Foram dormir sem se falar.

   No dia seguinte, logo cedo, antes de ir trabalhar, Zuleika passou na casa do Padre Marcelino, já chegou quase chorando. Pediu para conversar com o padre que a atendeu muito bem e lhe deu vários conselhos. Depois foi para o trabalho se esforçando para não apresentar um clima de tristeza.

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(Esta história tem uma pausa nesta parte, a segunda parte terá prosseguimento em breve, mas antes gostaria de ler os comentários dos amigos leitores do RL para que seja formalizada uma maneira de findar este enredo sem muitos transtornos. Conto com a colaboração de vocês)

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 02/02/2023
Reeditado em 02/02/2023
Código do texto: T7709866
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