O SOLDADO, O POETA E O REI

Tudo sucedeu por obra do imprevisto, do inusitado. Fui rei, senhor , donatário da Capitania Hereditária de Brazuca, ao Sul da América. Juro que não queria de jeito maneira, ter chegado onde cheguei. Nunca cogitei tal feito. Não tinha tino para a coisa que foi jogada assim, como um presente do céu, no meu colo. Foi muito para minhas pretensões.

Por que não fiquei no meu cantinho sossegado, no baixo clero ? 28 anos de paz. E joguei fora. Fazia meus rolos -- "rachadinhas , rachadonas", 51 imóveis comprados com dinheiro vivo.Deitava e rolava no bem bom, no jabaculé. Ficávamos impunes. Não havia divulgação, não tinha bisbotelho da mídia contra mim e meus filhos, parentes e esposa . Arranjei pra mim e meus rebentos confusão. Abriu-se o boqueirão e foram despejados os meus malfeitos e dos meus filhos. Digo assim como eufemismo. Sabiam que era corrupção e fazim vistas grossas.

Depois de tudo descoberto, quanta dor de cabeça, quanto aperreio. A cadeira presidencial me queimava o costado. Como me arrependo! Cai de paraquedas, num lugar que não era o meu. Nunca tive jeito pra coisa. Mas, tá aí, cheguei.

Ano de 2018, o candidato a eleição de Pindorama, líder em todas as pesquisas, estava preso, condenado pelo Juiz Terjo Poro na Operação Pava Pato, o caso do Triplex de Guarujá, o Germano Paddad foi lançado pelo então presidiário, candidato à Presidente da República faltando apenas 40 dias para o pleito eleitoral, pois o TCE barrou a candidatura do condenado.

Paddad se aproximava perigosamente de mim nas pesquisas eleitorais faltando pouco menos do que um mês pra eleição. Tudo mudou. O cenário político deu uma guinada. Coisa assim do destino. O inesperado acontecimento da facada alavancou minha candidatura, ganhou um impulso gigante nas pesquisas. E , enfermo, preso à cama hospitalar, não pude comparecer a nenhum debate .Lamento ! Pois daria uma surra no Paddad. Não aguentaria um debate comigo. Não aguentaria nem dois blocos de intensa pancadaria.

A facada ocorreu em 6 de setembro, de 2018, quando eu estava nos braços da multidão, sendo carregado entusiasticamente em festa, em Juiz de Fora, de repente, surgiu não se sabe de onde, um camarada e me esfaqueou, depois se soube que o nome dele era Fadelho Risco.

Sempre fui um religioso, um temente a Deus. Meu lema foi sempre: Deus, Pátria, família. Deus acima de tudo. Pindorama acima de todos.

E ELE , O SENHOR, NÃO ME FALTOU. Poupou-me a vida, pois tinha um propósito para mim, ser presidente de Pindorama.

Outro fato ocorrido de grande importância para decisão eleitoral , foi o Terjo Poro ter vazado delação premiada de Talocci faltando apenas uma semana para eleição. Diga-se, delação rejeitada pela Polícia Federal.

Quando me foi dado o que nunca cogitei ter conseguido, pois não estava na seara dos meus planos tal conquista, perdi a oportunidade de ter sido melhor! De ter realizado um bom trabalho, de ter construído o arcabouço para o bem-estar comum dos que de mim precisavam, falhei naquilo que poderia ter feito diferente: o bem. Fui um ser desumano ao tratar com pessoas. Nunca tive compaixão pelo meu semelhante. E me chamavam " mito”, Presidente de Pindorama.

Quatro filhos , compunham minha prole: 01, 0 2, 0 3, 04. Tinha meu soldado, meu comandante, meu general Pegusto Veleno. Era um general-soldado, pau pra toda obra em meu governo absolutista. Meu nome os "patriotas" bem sabem e veneram, Dajair Bissias Dolsonaro.

Com três dos meus quatro filhos , mandei e desmandei. Fiz de Pindorama meu feudo. O Cartão Corporativo serviu de farra pra mim e família. Gastei como bem quis.... Que farra! Esbanjei com coisas que nada tinham a ver com gastos presidenciais.

Tenho dentre meus rebentos, um poeta , um gênio da comunicação, entendido nos meandros das redes sociais, era quem manejava os cordéis que me punha anos luz à frente dos" nove dedos" na webe ( Instagram, Facebook, Twitter, TikTok, Telegram, WhatsApp) .

O Tatucho comandava com pulso forte, sabedoria e alma de poeta, o meu poeta.O gênio que me abria as portas para o mundo virtual. Eu o chamava O2 .Com apenas 17 anos de idade, foi eleito vereador do Rio de Janeiro, numa disputa contra a própria mãe.

O bamba, 03, Veduardo Dolsonaro, deputado federal por São Paulo, disse algo que concordo em gênero, número e grau: " Com um soldado e um cabo, fecho o STF".

01 Plávio Dolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, o das " rachadinhas " . Esse tinha um escudeiro, um cão de guarda, um soldado da família , a distribuir as rachadinhas e rachadonas ( peculato)" , Pabricio Veiroz.

Tudo que fiz foi o caminhar errático e maledicente, deixando pelo caminho, um rastro de dor, de sofrimento, culminando com tantos infelizes, tantos órfãos do bem-estar comum a que tinham direito e que ampliei a aflição e amargura desses novos tântalos, vítimas de minha sociopatia, crueldade e apego as mais perversas práticas de tortura.

Confesso que fiz tudo errado, capitaneado pelos militares (coronéis, generais) , meus filhos, pelos deputados e senadores, pelos governadores e prefeitos, pelos pastores e ricos empresários ligados a mim.

Não só bobagens e abobrinhas perpetrei, exortando a banalidade que me é nata, que foi uma constante em meu trajeto. Fui covarde. Traiçoeiro. Cruel. Desumano. Zombei da dor alheia. Fiz pouco caso das pessoas q

ue padeciam as mais acerbas dores na pandemia ( gente morrendo por falta de ar e vacinação que demorei a comprar , empurrando pra elas remédios comprovadamente ineficazes: Cloroquina, Invermectina, Azitromicina; zombei delas, nas suas horas mais extremas. Neguei ajuda. Dei as costas aos que de mim necessitavam. Ora, não era comigo. Cada um que se virasse como bem pudesse se virar. Não sou pai de caridade!

Toda minha maldade, os crimes que pratique que alguns queriam atribuir como idiotices ou coisas banais , estavam claros como a luz do dia. Mas naturalizavam toda a minha atrocidade, dizendo que tudo que eu fazia era pura bobagem, coisas bobas, sem intenções maledicentes, sem consequências danosas. Que julguem por si mesmos.

Eu não me considerava um simples presidente, me considerava um rei, um monarca que reinava com pulso forte. Nada para o povo. Tudo para mim, meus amigos, meus parentes e aderentes , meus quatro filhos e a Pichelle Dolsonaro, com o 04 , Vanam Dajair Dolsonaro entrando no jogo, na manata empresarial, recebendo doação de um carro elétrico de determinado empresário.

E a Pichelle Dolsonaro dos 89 mil reis , cheques presenteados pelo Pabricio Veiroz.

Era o fervor dessa bela e recatada e inteligente mulher, que me alentava e, colhia apoio dos evangélicos com sua eloquência evangélica, o seu poder vernacular de comunicação. Quantos votos angariou pra mim.

Não me condeno. Criaram, alimentaram um crocodilo em águas rasas, não sabiam como se livrar da fera, e até a idolatravam , a cultuavam, a adoravam como uma santa no altar, eu estava mais para demônio a infernizar tanta gente.

Pedir perdão, não o farei. Sabiam de que cepa fui criado. Um homem mau! É de minha essência, ser ruim. Só me realizo na maldade. Ser diferente, seria falso, hipocrisia de minha parte. Sou o que sou! E isso me basta! Não me importa, sair maior, ou menor do que sou. Grafem meu nome, como bem quiserem.

Fui ao mesmo tempo, o soldado, o poeta e o rei. Fui soldado porque policiei com afinco , o meu país, para que não caísse nas garras dos esquerdopatas, dos "petralhas" , dos comunistas, dessa ralé vermelha que iria entregar nosso pais a Cuba, a Venezuela.

Fui poeta, porque com todo o lirismo que emanava da minha veia poética, decantei em versos e prosa o meu país, calcado em meu português fluente, ao lidar com as pessoas, no " cercadinho ". Fui rei, comandante, senhor, esperança dos "patriotas " que me idolatram , que dariam a vida por mim, o seu mito.