A VAGA DE MORDOMO

 

 

   Eu entrei naquele imenso salão para uma entrevista de emprego, fui recepcionado por uma senhora de certa idade e que me ofereceu um imenso sofá para aguardar enquanto o patrão tratava de alguns negócios. Me ofereceu também uma água e depois sumiu por um imenso corredor. Fiquei ali naquela mansão majestosa imaginando conseguir aquele emprego de mordomo que eu tanto desejava. Estava sozinho, estranhamente estava sozinho, pois esperava encontrar outros candidatos interessados na vaga. Isso me deixou até confiante, sem concorrentes seria até mais fácil, o que me deixou de certa forma tranqüilo quanto ao posto pleiteado. Ia ser canja, caso não surgissem outros candidatos.

   Ontem a noite eu estava bastante apreensivo, fui informado através de um amigo que o mordomo dessa mansão havia falecido de mal súbito e que a vaga ficara aberta. Perguntei por que ele não se interessava e ele me respondeu, rindo, que não gostaria de ocupar a vaga de um morto. Isso me surpreendeu, mas eu resolvi topar a parada. Fui dormir pensando naquela afirmação do meu amigo.

   Ali estava eu, naquele suntuoso imóvel que mais parecia um castelo dos contos de fadas já me imaginando o mordomo para atender as pessoas que pretendessem falar com o Sr. Atlas, assim era conhecido o milionário do ramo de petróleo. Vou me dar bem - pensei. Tudo corria bem, mas o tempo foi passando e nada de ninguém me atender, mas continuei confiante, afinal não apareceu mais ninguém para se juntar a mim, eu me achava o rei da cocada, a vaga ia ser minha e ponto final. Súbito me assustei com as badaladas de um antigo relógio de parede, daqueles bem compridos, onde se via o pêndulo balouçar prá lá e prá cá. Ele marcava nove horas em ponto e eu estava ali desde as oito da manhã. Estranhamente eu começava a sentir uma tranqüilidade estonteante, uma espécie de sonolência, também pudera, ali sozinho, na espera, naquele silêncio sepulcral, não podia sentir outra coisa. Ouvi então alguns passos. Ainda bem, alguém se aproximava. Os passos cessaram e eu fiquei na expectativa, eles vinham do imenso corredor, mas depois reiniciaram. A claridade daquele recinto vinha da luz solar que atravessava imensas janelas, dava para sentir o frescor ambiente proveniente da entrada de brisa através de frestas nas janelas. Me senti como se levitasse de tão maneiro que estava até que uma voz masculina a mim se dirigiu:

 

- O senhor veio em busca de emprego?

- Sim.

- Do meu emprego? Se foi pode ir embora, esse emprego vai continuar sendo meu.

 

Me assustei tremendamente quando aquele homem bem uniformizado se apresentou e falou essas palavras. Dizia que o mordomo ali era ele e que ninguém iria substituí-lo assim facilmente.

Acordei ainda trêmulo com o sonho, pensei nas palavras do meu amigo e decidi não mais procurar essa vaga na mensão.

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 27/01/2023
Reeditado em 27/01/2023
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