O restaurador em Milão
A pintura Madona e o Menino estava sobre o cavalete com as lâmpadas halógenas apontadas. Com poucos ágeis movimentos, Argov refez o traço perdido da pintura. Ele considerava, pela sua eficiente habilidade, que o trabalho físico de restaurar era a parte fácil, precisava ter habilidade e concentração. Duas perícias que Gideon Argov possuía e o fazia ser tão procurado no mundo da arte. Paciência era a arma secreta, já que era necessária para cuidar até dos pequenos e quase imperceptíveis detalhes.
Quando tinha algum trabalho de restauro, sua vida era totalmente dedicada a esses momentos. Desde o início do contrato até o fim do restauro. O mais difícil era a pesquisa. Estudar o estilo e a técnica do pintor e depois mais estudos sobre a obra. Era um trabalho de dedicação. Isso o fazia imergir na vida e técnica do pintor. Alguns pintores como Caravaggio (sua especialidade), Ticiano e Artemisa eram um pouco mais fácil que outros. Eram artistas que ele já era bem familiarizado com a vida e a técnica. Por isso Bernardino Luini foi mais difícil e exigiu sua total atenção e dedicação.
Sobre a mesa de carvalho antigo, vários potes de tintas, pincéis e vidros com solventes, num canto mais distante um panini de pastrami com queijo brie e uma caneca com restos de café com leite frio.
Do outro lado da enorme sala encostado à parede, próximo à varanda, o sofá com uma coberta desarrumada. Sua cama nesses últimos meses. Que Atena não o visse, com certeza ela o reprovaria pelo pouco caso a si mesmo e a dedicação excessiva com a tela de um grande mestre. O seu Ateliê em Milão era um prédio de três andares. O segundo andar era onde estava e era o estúdio com a enorme sala e uma pequena cozinha. O último andar era o apartamento que servia de casa. Argov só usava quando Atena estava com ele, na maioria das vezes ele usava o próprio segundo andar para dormir, tomar banho e ficar. Se alimentava sempre em Cafés, restaurantes ou pequenas trattorias longe de turistas que povoavam Milão.
Wesley Rezende