DEPOIS QUE A CHUVA PASSAR

 

 

   Eu voltava do colégio, estudava a noite, cursava o ginasial, durante o dia trabalhava, mesmo cansado, já bem tarde, gostava de olhar as estrelas cintilando. Poucas nuvens no céu escuro pintado de pontinhos brilhantes, minha admiração. Num desses momentos interessantes eu vi uma garota atravessar a rua, ao alcançar a calçada ela parou, tinha deixado algo cair. Ela não percebeu. Mais que depressa cruzei a rua e peguei o obejeto. Era uma pequena caixa, estava bem embrulhada com papel presente. Corri em sua direção e a alertei sobre o ocorrido. Ela virou-se surpresa, entreguei-lhe a caixinha e ela agradeceu. Notei que seus lindos olhos eram esverdeados, a luz de um poste me permitiu ver. Um sorriso triste ela me ofereceu. Não deu tempo para mais nada, ela seguiu em frente e sumiu na primeira esquina. Fiquei imaginando que tristeza ela carregava, assumi para mim um pouco daquela tristeza. Não sei como deduzi, mas essa garota estava triste sim.

Noite seguinte, voltando do colégio, já não me interessava muito pelas estrelas que cintilavam, pensava naquela garota dos olhos verdes, tão impressionado estava que quase nem a vi atravessando a rua. Dessa vez nada caiu dela, mas algo aconteceu. Ela virou-se e me fitou. Fiquei parado, paralisado. Não esperava essa reação dela já que ontem ela saiu rapidamente e sumiu na esquina. Fiquei sem entender, mas atravessei calmamente a rua e fui ao seu encontro. Ela sorriu e mais uma vez me agradeceu pelo fato da noite anterior. Tomei suas mãos e disse: tudo bem. Conversamos um pouco, em seguida lhe acompanhei até a esquina, dali ela me pediu que voltasse. Seu nome: Marinalva.

Mais uma noite saindo do colégio. Saí mais cedo, a última aula foi dispensada. Olhei para as estrelas, ainda sem interesse, andei devagar, queria dar tempo para ver Marinalva, tinha que esperar alguns minutos. Nisso nuvens escuras cobriram o céu e fez desaparecer as estrelas. Em seguida forte aguaceiro desabou. Nesse momento a garota atravessou a rua, acho que não me viu. Abrigou-se debaixo de uma marquise próximo da esquina. Pensei, depois que a chuva passar vou ao seu encontro. Quase meia hora depois estiou, segui apressadamente até a marquise, mas ela não estava mais lá. Fui prá casa decepcionado.

Na noite seguinte era uma sexta-feira, mesmo horário, mesmo local, fiquei a esperá-la. O tempo mudou, a chuva caiu. Vi seu vulto atravessando a rua segurando uma sombrinha. Fiquei preocupado e mais uma vez Marinalva sumiu na mesma esquina. Depois que a chuva passou fui até lá, mas sabia que era perda de tempo.

Final de semana, pensamentos em minha mente, a imagem de Marinalva na minha cabeça. Esperei chegar a segunda-feira para um novo encontro. A última aula demorou um pouco mais, não vi a garota e mesmo já era tarde. Na noite seguinte tentei novamente. Esperei ela aparecer, mas quem apareceu foi a chuva, o que me chateou. Fiquei nervoso. Vi quando ela atravessou a rua com sua sombrinha. A chuva estava forte, o que fez ela parar debaixo da marquise. Uma esperança para mim. Depois que a chuva passar vou lá - pensei. Estiou um pouco, arrisquei me molhar, mas quando cheguei lá ela havia sumido. Fiquei com raiva da chuva.

Outras noites vieram, mesma encenação minha, mas Marinalva não foi mais vista, as estrelas estavam lá, cintilando, porém eu nem dava bola para elas, eu agora me preocupava com uma única estrela: Marinalva. Essa passou a ser a minha estrela. Aquela tristeza que vi nos olhos dela passou para os meus olhos. Culpa da chuva. Culpa das estrelas do céu, perdi completamente o interesse por elas. As vezes a chuva caía justo no horário dela passar, mas ela não atravessava a rua, mas mesmo assim quando a chuva passava eu ia até a esquina, mas não via Marinalva.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 19/01/2023
Reeditado em 20/01/2023
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