ELA ME DAVA ARREPIOS

 

   Início dos anos setenta, eu estava apenas com 19 anos, era um rapaz solteiro como tantos outros da minha turma de adolescentes que almejava encontrar uma garota para me firmar em um namoro duradouro, mas a sorte não me abraçava nesse sentido, apesar da minha esperança. Eu via tantos rapazes com suas namoradas vivendo momentos felizes, arquitetando planos, não com um casamento, pois se achavam muito jovens para essa determinação, mas para serem vistos como representantes de uma forma de vida mais responsável e até dinâmica. Já havia namorado algumas moças, porém sem muito entusiasmo e sem pretensões. Até aí eu não entendia nada de amor, para mim interessava somente era a atração física, termo muito em voga naquela época. Freqüentava festinhas familiares e clubes que apresentavam conjuntos musicais e alguns cantores sem muita fama, as vezes os amigos cismavam de assistirmos um bom filme nos cinemas que infestavam a cidade, lançamentos que levavam o público ao delírio, como por exemplo "Tubarão", "Terremoto", "O Exorcista", entre outros.

   Eu já estava com 20 anos quando comecei a trabalhar em uma repartição pública, já me sentia mais responsável e pronto para assumir um relacionamento mais sério, mas essa oportunidade ainda não havia sido disponibilizada para mim e eu continuei no agito com os colegas numa época em que a "Jovem Guarda" estava no auge e as garotas, paquerando uma, paquerando outra, até conhecer Eleonora, uma jovem que veio residir no bairro e que se tornou uma espécie de deusa devido a sua beleza física e ao seu jeito de tratar os rapazes com quem fez amizade rapidamente. Ela podia ter uns 18 para 19 anos e até então eu ainda não havia sido apresentado a ela, mas a sua forma de me olhar me cativou e me deixou com uma certa simpatia, era como se a gente já se conhecesse, essa era a minha impressão. Só durante uma reunião com os amigos é que fui me aproximar de Eleonora, ela mesma se dirigiu a mim e deu sua mão, que prontamente foi aceita com aquele tradicional beijinho nela, o que deixou-a encantada com o meu cavalheirismo. No entanto, após beijar sua mão, senti um arrepio estranho, fato que me deixou um tanto preocupado, porém não levei muito a sério e continuei enturmado e participando da conversa.

   Os dias se passaram e Eleonora já estava bem enturmada, já fazia parte dos nossos divertimentos e festinhas. Numa noite de sábado fomos convidados para uma festinha em um clube do bairro e quando lá chegamos lá estava ela, Eleonora, elegantemente vestida sendo paparicada pelos novos colegas do bairro, era o centro das atenções. Delicadamente lhe cumprimetei, momento em que ela subitamente veio ao meu encontro e me abraçou, o que achei fora do comum, mas aceitei e achei ótima aquela junção dos corpos, o que me deixou praticamente em delírio sem acreditar no que estava acontecendo. O problema foi que mais uma vez senti aquele arrepio inesperado e meu corpo estremeceu, o que fez ela me perguntar o que estava ocorrendo. Encabulado me desculpei e disse que não era nada. Com um sorriso me afastei um pouco para recuperar-me emocionalmente. Fiquei pensando, essa garota está mexendo comigo, esses arrepios estão me preocupando, mas a razão eu não sabia. O baile transcorreu normalmentrme, ela dançou com alguns rapazes amigos nossos e quando chegou minha vez procurei me controlar para não dar vexame. Delicadamente a enlacei e iniciamos a dança, a música era lenta e romântica. Tudo estava indo bem, mas de repente o temido arrepio tomou conta do meu corpo, mas eu me segurei para não interromper a dança. Aos poucos fomos nos envolvendo e calhou dela encostar seus lábios em minha face, o que eu não esperava, não faltava nada para um boca na boca. E acontrceu. Nos beijamos intensamente para aplausos de alguns dos nossos amogos que a tudo assistiam. O arrepio aos poucos foi desaparecendo e após a dança fomos para um reservado onde conversamos. Imaginei surgir ali um namoro, mas não foi isso que aconteceu, depois de alguns "amassos" fomos para junto da turma para terminarmos a noitada.

   No dia seguinte, um domingo, a turma resolveu ir a praia, topei ir também, pois estava interessado em Eleonora, porém notei a falta dela e quando perguntei por ela me disseram que estava com um namorado, um cara que conhecera e que era do bairro de onde ela havia se mudado. Fiquei surpreso, mas não me preocupei, afinal aqueles arrepios não estavam me fazendo bem. Na praia outra surpresa, Eleonora apareceu com o tal namorado e apresentou-o para a turma informando que era um ex e que haviam voltado. A nossa amizade não se perdeu e assim continuamos só como amigos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 18/01/2023
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