Liberdade Autista
Sempre foi muito solitária. Não que se importasse, mas apenas nunca a chamaram para as brincadeiras, para as conversas. Mesmo seus pais, sempre distantes e não dentro de sua alma. Mas não importava.
As bonecas não eram suas amigas, não gostava dos seus olhos estranhos. Seu vestido era seu amigo, sempre que flutuava a cada corrida, junto com o vento, seu príncipe encantado. E de repente lá estava ela, correndo por mundos inimagináveis onde as pessoas não existiam e seu vestido falava, e por sinal falava muito. O vento não. Ele permanecia o mesmo, com seu jeito misterioso, seus abraços repentinos e seu carinho escondido, de brisa, apenas quando ninguém estava olhando.
Olhava as árvores e elas balançavam e lhe lançavam folhas, ciumentas da namorada do vento. Mas ela não ligava para ciúme, queria apenas ser ela mesma, sem saber ou pensar nisso. Era livre no seu jeito de ser, de olhar e de entender as coisas. Alguns a podiam achar estranha, porém, o que importa? No seu mundo ela era rainha sem súditos e sem dor. No seu reino as crianças voavam e compartilhavam os espaços sem grandes brigas. E dela eram, pois a ela não pertenciam. Assim, de braços abertos, ela reinava como quem dá um abraço, sem esperar as mãos para afagar.