Ronald não estudou para a prova
O sistema educacional muda de tempos em tempos. A pedagogia evolui (ou involui?) ao sabor das transformações sociais apresentando novas tendências. Contudo, sempre haverá uma prova, uma avaliação a ser feita, de modo que os estudantes demonstrem para os professores os progressos obtidos.
O Ronald não estudou para a prova.
Mulato, alto, novo, entrando nos últimos momentos do período que a ciência convencionou chamar de "adolescência", Ronald possuía uma vasta cabeleira com muitos cachos. Uma linda samambaia negra.
A prova possuía vinte questões, intercaladas entre objetivas e dissertativas. O tédio imperava em Ronald, que intercalava as ações, diante desta prova, em enrolar seus cachos com o dedo indicador da mão direita e balançar a perna direita ansiosamente.
Ronald não tinha estudado para a prova. Preferiu, nos dias que antecederam aquela avaliação, as redes sociais, os jogos de seu PS4 e a maconha. Não havia porquê estudar. A prova seria mais um trâmite burocrático da escola por mais que seu professor argumentasse em favor da importância dos assuntos apresentados...
O tempo corria. 30 minutos passados de 90 à disposição dos alunos para a realização da prova. Ronald cantarolava, baixinho, um último trap lançado nas redes horas atrás e que ouvira à exaustão. A melodia incomodou Joana que reclamou ao professor silêncio por parte de Ronald. A melodia foi cessada abruptamente.
A reclamação fez com que Ronald percebesse Joana como nunca antes. Reparou-lhe a boca, as coxas, os cabelos e seios da jovem sentada numa exatidão cristã, absolutamente absorta na prova.
Não se pode dizer que a prova era atividade sem sentido para Ronald. O sentido que o jovem atribuía à avaliação, era aquele que muitos também atribuíam: uma das tantas formas de passatempo dentro da escola que exigiam rabiscos aleatórios que vinham à mente.
Ronald não estudou para a prova. Contudo, não a entregou em branco. Faltando quinze minutos, desandou a escrever e a desenhar, ainda que em nenhuma questão fosse exigido desenho. Escreveu e assinalou qualquer coisa. Realizou obra de arte distinta em versos raros, muito distantes de serem respostas corretas às questões.
Brusque, 06 de julho de 2021.
Cleber Caetano Maranhão