AQUELES OLHOS AZUIS

Quando o viu pela primeira vez, algo ruim veio em sua lembrança. Remeteu àquela voz grave e aqueles olhos azuis, a um vagabundo que o tinha conhecido há dois anos atrás o qual lhe tirou a paz. Deu-lhe um arrepio de medo, por alguns segundos imaginou que estava revivendo tudo novamente. Respirou fundo e falou consigo mesmo - Não posso atribuir a maldade de alguém para todos os homens brancos, de voz grave e olhos azuis.

Era seu primeiro encontro com o grupo de professores com quem ela ia trabalhar durante todo o ano vindouro.

Apresentou-se como Serena, e pediu que todos se apresentassem e falassem um pouco dos seus anseios e o que eles mais necessitavam que fosse feito no momento.

Juan, ela já o conhecia, pois tinha sido seu estagiário nas aulas de espanhol. Ele falou pouco. Andrew era o professor de inglês, aquele homem dos olhos azuis e voz grave; que tinha cabelos brancos e usava uma barba pequena. Logo começou a falar da sua revolta, quando a parte gestora não deixava que os alunos do curso se alimentassem como os outros alunos do regular, segundo ele, um dos gestores disse "que os alunos já tinham o curso grátis e os alimentos era direcionados somente para os alunos do regula".

Benoit, era o professor de francês, um rapaz mais tranquilo, de voz calma, que usava um cabelo médio amarrado atrás e tinha uma mexa branca na frente.

Foi a vez da Luna, a professora de espanhol, uma mulher de cabelos longos escuros com algumas luzes douradas. Ela fez varias reivindicações, falava sem parar, parecia que não respirava.

Serena ouviu a todos com atenção, também contou-lhes um pouco da sua experiência como professora e falou-lhes da sua inexperiência como coordenadora. Ainda acrescentou: - Preciso da ajuda de vocês! Quando recebi o convite pensei muito para aceitar, mais ao vir conhecer a equipe, simpatizei e resolvi viver essa nova experiência.

Prometeu que tentaria ajudar os professores, também era necessário mudar o ambiente, estava muito sombrio e sem graça para um espaço direcionado especialmente aos cursos de Línguas estrangeiras.

Era dezembro final do ano letivo, Serena tinha ido conhecer os professores e levar algumas documentações que ainda faltavam, para ser reconduzida no ano seguinte para aquela escola. Entra o novo ano, chega o final de janeiro e logo ela assume o cargo, com muitas reuniões e planejamentos. Serena dá as sugestões para a decoração das salas, logo os professores começam a confeccionar as bandeiras, conforme os países que correspondiam aos cursos, ou seja, Espanhol, Francês e Inglês. Fizeram um trabalho em grupo. Enfim, começam as aulas e ela sempre em sintonia com a equipe de professores, ouvindo-os e levando suas reivindicações ao diretor. Era um grupo tranquilo, mas sonhadores. No início do mês de fevereiro entra a professora Brenda, também era professora de inglês, ela era a mais jovem do grupo, tinha cabelos longos encaracolados, estava disposta a cumprir as decisões tomadas em conjunto com os colegas.

Foram se passando os meses e a intimidade com a equipe foi ficando mais forte e aos poucos nascia uma amizade entre Serena e seus professores.

As quintas e sextas-feiras, Serena sempre almoçava com Andrew, aquele professor que lhe apavorou assim que o viu. No final do expediente, ele esperava por Serena para irem juntos até o terminal de ônibus.

Andrew era um cavalheiro, sempre cuidando dela. Ela com seu jeito de mulher livre, nem se dava conta que ele queria a proteger. Muitas vezes ele falava: - Você é machista. Ela ria, achava bobagem.

Certa vez ao entrarem no ônibus, Andrew segura sua mochila, para que ela passe a catraca. Após eles passarem, o ônibus estava lotado e ela se desequilibrou. Foi quando Serena sentiu alguém lhe segurar o braço com firmesa para que não caísse. Quando de repente Serena olha e vê aquela mão branca e grande lhe segurando, sentiu-se protegida e encantada por aquela mão.

No decorre do ano, Andrew foi ficando a cada dia mais próximo e a vontade ao lado de Serena, vez ou outra ele tentava toca-lhe os ombros como se tentasse faze -lhe uma massagem e dizia: - relaxe! Nem parecia que ela era a sua chefe.

As conversas se tornaram mais espontâneas e sem muitas restrições. Algumas vezes, ela chegou a imaginar aquelas mãos lhe segurando por trás, logo mudava seus pensamentos. O fato era que Andrew, sempre estava preocupado com ela. Ficava bravo quando alguém a tratava "mau", era assim que ele falava. Serena era tranquila, não dava muita importância para algumas coisas que considerava pequena, mas Andrew não se conformava e sempre que tinha uma oportunidade reclamava.

Andrew falava das suas histórias de amor, de como os homens imaginam as mulheres quando eles sentiam algo por elas. Serena também contou-lhe sobre sua historia de amor, e o quanto gostava de continuar recebendo as mensagens do seu ex-namorado, embora agora ela só o queria como amigo. Andrew aconselhava que ela desse uma chance para o seu ex-namorado, que se divertisse.

Foi um ano tenso por ter desmoronado todas as expectativas da equipe, mas enfim, foi criado entre o grupo uma amizade.

Andrew se afastou antes do final do ano, só ficou indo para a escola uma vez por semana, e mesmo assim só era meio período.

No último dia do ano letivo, Serena não almoçou ao meio dia, como era de costume, pois estava muito atarefada para finalizar a ata individual de cada aluno. Quando Andrew chegou, a convidou para irem almoçarem juntos em uma padaria, mas conhecendo a Serena, sabia que ela não almoçaria em um ambiente como aquele, onde as pessoas se agromeravavam e mesmo se serviam. Ela até saiu com ele, mas não comeram, o ambiente não lhe agradava. Logo na chegada, Andrew disse: - pela sua cara já sei que não vai comer, vou comprar alguma coisa para lhe acompanhar. Serena havia levado a marmita e preferiu come-la como fazia todos os dias.

Andrew o acompanhou tomando o lanche que havia comprado, ele ainda dividiu com o mão de vaca do Juan, que se encontrava no refeitório.

Depois ficaram um tempo os três conversando e falando besteiras.

No final do horário, como de costume Andrew ficou esperando lá fora por Serena, pois ele sempre saía antes para fumar o seu cigarro. Neste dia foram juntos só até o ponto de ônibus, que rapidamente chegou. Serena gostava da companhia dele, mas só se despediram com votos de boas festas! Nem um dos dois tiveram a atitude de se despedissem com um abraço.

Ela ficou pensando: porque não o abracei!?

Marlene Rayo de Sol
Enviado por Marlene Rayo de Sol em 05/01/2023
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