Maternidade e transformação

Certa vez alguém lhe disse que era preciso conhecer o próprio coração. Mas ela não entendeu aquilo. Parecia abstrato demais, e trivial ao mesmo tempo. Claro que conhecia seu coração, que dificuldade poderia haver nisso?

Foi então que deu à luz um bebê frágil, que poderia sucumbir ao menor sopro de vento frio. Logo em seguida, ela sentiu a lança espetando caprichosamente as suas costas. Era o momento de pular. Não havia escolha além da ponta afiada cortar a pele e entrar com força. Podia pressentir o agudo da dor na espinha. Olhou para baixo e o medo aumentou. Seria um salto no escuro. Não tinha a menor ideia de onde estava seu coração. E pulou.

Percebeu finalmente os pés alcançarem o piso e acendeu um palito de fósforo. O coração estava lá, na sombra todo esse tempo. Havia poeira, mofo e muitas pragas naquele lugar. Era desconhecido, mas tão familiar que sentia ter chegado em casa. E começou a correr contra o tempo para organizar o quanto antes a faxina que deveria estar sendo feita há muitos anos. Abriu a porta e as janelas. A luz entrou, depois o bebê e pessoas curiosas começaram a chegar. A partir daquele dia, ela passou a habitar o coração e a trabalhar exaustivamente, dia e noite, para deixá-lo limpo e arejado. E havia o aconchego próprio dos corações a receber quem nele precisasse ou quisesse fazer morada.

Mary Haskell
Enviado por Mary Haskell em 01/01/2023
Reeditado em 01/01/2023
Código do texto: T7684347
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