Zé Marco
Tem um real?
Saiu batendo as campaínhas com a mesma pergunta, vezes sem conta. Descalço, os pés grossos, gretados. Uma colcha encardida atravessada no torso nu. Vestia somente uma calça curta suja, sujíssima.
Lembrou-se mais uma vez de como era estar beijando Liliana. Depois, a mãe aos berros, arrastando-a pela rua com violência, ameaçando, xingando todos os palavrões que não estavam no dicionário. Desistiu dela e nunca mais amou de novo. Largou a obra onde assentava tijolos com habilidade. Foi perdendo tudo, sapato, roupa, dentes e a vontade de viver.
Contou os reais conseguidos. E foi andando a passos lentos até a beira do rio onde se reuniam os viciados. O cachimbo escondido dentro das calças. Ali tinha fumado a primeira pedra.