A Ghoul de Lençóis

A Ghoul de Lençóis, era filha de uma relação incestuosa entre irmão e irmã. Eles não moravam aqui, mas vieram até aqui com a filhinha pequena de sete anos. O Ghoul é um tipo de monstro lendário (não muito por nossas bandas) que tem predileção total pela carniça humana. Manter o Ghoul longe dos cemitérios e necrotérios de uma cidade, é uma tarefa difícil quando são pequeninos. A menina se chamava Amarantha... e tinha uma beleza descomunal, como se tivesse com ela: todas as etnias unificadas pro bem maior... de se criar um ser perfeito. Era branca com traços graves de negra, cabelo crespo e olhos muito puxadinhos. Era muito inteligente também. Tirava notas boas. Seus pais é que preferiam ser nômades e deixá-la somente por algum tempo (meses) numa cidade estudando. E então retomavam a viagem por todos os cantos da Bahia.

O problema é que aqui, nos tempo de Pandemia... Os pais da menina Ghoul, tiveram que ficar por muitos meses a mais. E afinal de contas, Amarantha teve seu humor brutalmente afetado pelo instinto de querer demais sua comida adequada. Sentia-se fraca por muitos dias, oscilando entre crises psicóticas de abstinência extrema. Ficava enojada com tudo que a oferenciam... Se sentia injustiçada de ter que comer aquela comida dos mercados da cidade. Varias vezes mordeu ferozmente o próprio pai ou a mãe, não com intenção de matar (os Ghouls -- se criados adequadamente -- podem ser pessoas muito boas, seguindo todos os códigos de honra que nós seguimos), mas aquilo estava enlouquecendo Amarantha...

Certa noite, sem que os pais vissem, pois já estavam dormindo. Amarantha subiu a ladeira até o cemitério e entrou, com o estômago roncando. Pôs-se a cavar, cavar e cavar... Ela possuía um faro diferente... Muito mais aguçado do que o nosso. Sabia, pelo cheiro, o túmulo que abrigava a melhor comida. Tirou o homem "recém-morrido" do túmulo e se sentiu feliz como num banquete com os deuses. Comeu pedaço por pedaço com gosto, comia, assobiava, cantarolava feliz... Viu o sol nascendo enquanto -- com os destroços do homem no colo -- seguia com uma faquinha de serra, arrancando pedaços e comendo. Até que foi vista por pessoas que passavam. Era surreal a visão. Uma menininha devorando a carcaça de um homem morto. Sentada, satisfeita e arrotando. Pegaram-na para ser linchada, mas seus pais (que a procuravam desde cedo) chegaram e tentaram explicar a situação e sua condição "diferente". Pediram eternos perdões, e juraram que jamais voltariam aqui. Mas as pessoas não perdoaram tal sacrilégio e os três foram mortos a pauladas e seus corpos demoníacos foram queimados juntos... Hoje o que acontece é um cantarolar que nos persegue todas as vezes, no momento de uma pessoa ser enterrada, no cemitério, e também pela cidade em silêncio... Um canto que passa quase despercebido às pessoas; principalmente as que chegam de longe...Mas é o espírito de Amarantha... menina Ghoul, que comia carne de gente. E seu canto que dizia assim:

"O mal tem mil nomes, pois vocês

têm milhares de medos, sem fim. . .

O bem não tem nome nenhum!

Pois que é só UMA bondade

que ocê faz... AH, se faz...ah, se faz..."

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 26/12/2022
Reeditado em 26/12/2022
Código do texto: T7679779
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