O menino e o potrinho
Na fazenda morro velho morava um homem de gênio forte e pouco piedoso, cujo nome era Leopoldo. Casado com Dorinha e pai de um menino franzino a quem dera o nome de Samir.
O homem tinha um comportamento rude e era duro de coração, pouco católico e muito exaltado. Não era de muitas amizades e passava o tempo todo ocupado com o trabalho da fazenda sem dar importância devida à mulher e a seu bacuri.
Dorinha era uma mulher triste e vivia quase que o tempo todo calada, visto ser o marido um homem desatencioso tanto para com ela quanto para com o filho. O menino, que tinha apenas seis anos de idade, adorava brincar na estalagem no meio dos animais, gostava do cheiro que exalava o pequeno aconchego dos cavalos.
Certo dia, Samir estava na estalagem e presenciou um milagre da vida, o nascimento de um potrinho. O menino ficou encantado ao ver aquele animalzinho todo desengonçado e a mãe acariciando-o com um palmo de língua, o entorno de sua pequena cabeça.
O gurizinho saiu correndo para contar a novidade a sua mãe, que já o esperava para o almoço. Assim que se sentou-se à mesa, chegou o pai e o menino todo entusiasmado, contou o acontecido.
Ouvindo o relato do filho, Leopoldo disse:
— Logo que esse potro crescer, irei vendê-lo por uma boa soma.
Ao ouvir isso, Samir ficou triste e cabisbaixo, pois já havia apanhado amor ao jovem potrinho. Inconformado, disse a seu pai:
— Não faça isso papai, eu gostei muito do cavalinho e quero ele para mim.
— Deixe de choramingo menino, vou vender e chega de prosa.
Dorinha escutou a fala ditadora do marido, mas não pôde fazer e nem falar nada porque tinha medo de Leopoldo por ser ele um homem insensível.
Passado um bom tempo, o potrinho foi adquirindo forma de cavalo e Samir, cada dia que se passava, ficava mais apegado ao animal, ao passo que seu pai, mais entusiasmado em lucrar na venda do potrinho.
Alguns dias depois, um sitiante vizinho apareceu na casa de Leopoldo interessado em pagar bem pelo cavalinho. Os dois combinaram que trinta dias à frente, o acerto seria feito e o sitiante poderia levar o animal.
Vinte dias após o combinado, o menino estava brincando no pasto que ficava um pouco distante da casa, quando de repente, foi mordido por uma cobra cascavel. O garoto começou a gritar e a perder a visão por causa do veneno, mas ninguém o escutava até que foi perdendo as forças e caiu desmaiado.
Parecia que ninguém havia escutado o grito do garoto, mas não, o potrinho que estava acostumado com a voz do menino, ouviu o pedido de socorro e saiu em disparada até o local e logo que o viu caído, o agarrou pela gola da camisa arrastando o pequeno menino até à casa.
Leopoldo estava no portão de entrada quando viu aquela cena estranha e ficou apavorado pensado que o potrinho estava enraivecido. Rapidamente, pegou sua arma, apontou para o cavalinho esperando o momento exato para executá-lo, quando Dorinha gritou:
— NÃO! Não atire! Aconteceu alguma coisa com Samir e o potro o está trazendo.
Assim que chegou, o potrinho o colocou no chão e olhou para Leopoldo como se estivesse querendo dizer alguma coisa. Dorinha saiu correndo da varanda onde estava e logo viu as marcas de dentes na batata da perna do filho.
Leopoldo pegou o menino rapidamente e correu até o pronto socorro mais próximo. Chegando lá, o médico de plantão aplicou logo o soro e o deixou em observação.
Samir entrou em coma e assim permaneceu durante sete dias, como se estivesse morto. Seu pai fez vigília no pronto socorro e chorava muito, pensando que o filho não sairia com vida daquele lugar. Até que veio a boa notícia:
— Senhor Leopoldo, fique sossegado, amanhã seu filho terá alta, já despertou, alimentou-se e está conversando — disse com alegria a enfermeira.
No dia seguinte, pai e filho puderam retornar para casa. Quando se aproximaram da fazenda, tiveram uma surpresa, o potrinho estava na porteira esperando seu querido amigo. Ao ver seu potrinho salvador, o garoto desmanchou-se em lágrimas e exclamou:
— Papai, por favor, não venda meu cavalinho!
O pai olhou nos olhos do filho e disse:
— Fique tranquilo querido, de hoje em diante esse potro fará parte de nossa família. Eu já mais poderei entregar a outro este herói que salvou a sua vida.
Dito isto, Samir foi até o quintal e abraçou seu melhor amigo e falou olhando nos olhos do potrinho:
— Meu amigo, obrigado por salvar a minha vida, você é um anjo que Deus enviou a esta terra para ajudar a cuidar de mim.
Naquele instante, as lágrimas rolaram nos olhos do menino e ao ver a cena, o potrinho também deixou escapar uma gotícula de lágrima e deu uma gostosa lambida no rosto de seu pequeno amigo.
Leopoldo pôde entender que o mais importante não é ter o bolso cheio de dinheiro, mas sim, o coração cheio de amor e bondade, o que foi demonstrado pelo menino e pelo potrinho.