____________________A Bailarina

 

Rodopiar, abrir os bracinhos, ficar na ponta do pé! Anne sonhava ser bailarina.  Aos três anos, entrou para a academia e se entregou por inteiro à doce magia da 2ª Arte. Os adereços do balé invadiram sua vida. Se pudesse, ela iria para a escola em collant cor-de-rosa, à missa das crianças em sapatilhas de cetim. Na academia, não tinham formado turma com a idade de Anne. Mas ela se importou? Foi fazer aula com as meninas de cinco. As garotas maiores achavam o máximo aquela coisinha miúda entre elas. Virou mascote do grupo.

 

Por fim, o grande festival de fim de ano! Aquele era o maior e mais esperado acontecimento da cidade, às vésperas do Natal. Agora seria também a estreia de Anne no fantástico mundo da dança. Nos bastidores, entre as amigas, a menina exultava: era uma fadinha no seu figurino impecável de meias finas e coque faiscante. As garotas a levantavam do chão, qual troféu antecipado, gritando em alegre uníssono: — Anne vai nos dar sorte!

 

Ao embalo da coreografia, a fadinha deixou-se abduzir por Terpsícore, a musa da dança. Desgarrou-se das outras, esqueceu o ensaio, valsou sozinha: entre efeitos translúcidos e fumaças voláteis, o palco era dela! Fugiu do script, ignorou a plateia, vestiu a glória! Sim, Anne deu a maior sorte para seu bloco: o Lago dos Cisnes, protagonizou o maior espetáculo de todos os anos — uma verdadeira bailarina estava em cena.

 

 

Tema da Semana: Livre (conto)