Despedida ( BVIW)
Dona Raimunda era daquelas que amava os festejos de fim de ano, as confraternizações com a família, com os amigos. Dezembro sempre lhe remetia a tempo de despedida: do velho ano, dos ciclos antigos; uma abertura para novas possibilidades. Neste ano, em especial, uma nova motivação ao despedir-se. No trabalho não disse o costumeiro até amanhã, deu tchau pela última vez às colegas de profissão com as quais conviveu por décadas; também ao Seu Agenor da portaria, com quem dividiu o café forte todas as manhãs, e à última turma de jovens e adultos, com a qual mais aprendeu do que ensinou. Desta vez, a despedida teve sabor novo, de realização; sem saudade, apenas de ciclo vencido e muito bem vivido. Do carro, partiu direto ao aeroporto, sem delongas. Raimunda sabia, a matemática da vida não era tão exata quanto ensinara durante sua longa carreira e, seu " um quarto" restante, não poderia ser aquele, restrito a quatro paredes.
20/12/2022