UMA TRISTE NOITE DE NATAL

 

   A noite estava animada, o céu estrelado e as pessoas comemorando o nascimento do Menino Jesus. Era noite de Natal. Eu, como tantos outros garotos da minha idade, nos divertíamos vendo aquela mesa repleta de coisas gostosas de se comer. Lá estava o peru no centro dela rodeado de petiscos de dar água na boca, os demais componentes da ceia ali estavam também, eram imprescindíveis para que a festa tivesse a sua importância religiosa. Alguns membros da família bebiam e conversavam, tomavam aperitivos como o vinho ou a cerveja, a noite de Natal estava realmente brilhante e alegre e era observada por este menino que apenas visualizava tudo aquilo apenas se contentando em beliscar alguns petiscos com suco ou refrigerante, para mim estava sendo o máximo, eu estava me divertindo enquanto o sono não chegava apesar de bocejar de vez em quando.

   Essa cena se repetia por anos e mais anos, eu ia crescendo e acompanhando aquela encenação que muito me agradava, me deixava sempre feliz, no meu entendimento era a melhor festa que eu conhecia, era o momento mais sublime da minha vida quando eu podia aproveitar o máximo e comer tudo que gostava. Nessas alturas já era um rapazinho e entendia melhor o que representava Jesus para a vida dos cristãos. Eu imaginava um monte de coisas e o quanto isso era importante para a família e para as demais pessoas do mundo inteiro. Nesse momento eu pensei naquele que não tinha o que comemorar e nem tão pouco ter o que comer. Me bateu uma tristeza imensa, pela primeira vez eu me senti preocupado com quem não podia comemorar o nascimento do Menino Jesus. Belisquei alguns petiscos, tomei um pouco de refrigerante e saí sem rumo rua afora. Perto da minha casa tinha uma praça onde alguns mendigos ficavam para dormir e eu, na minha inocência, resolvi visitá-los in loco e ver como estavam. Fiquei triste com o que vi. Deitados no chão e cobertos por farrapos estavam alguns deles, suas camas eram papelões. Imaginei ali o meu conforto, aquela caminha quentinha e um lençol quase novo. Derramei algumas lágrimas. Voltei imediatamente para casa e, discretamente, preparei uma sacolinha com alguma comida, peguei o máximo que podia, peguei também uma garrafa grande com refrigerante e saí sem ser visto indo até a praça e distribuindo com os mendigos que ficaram mais felizes do que eu. Como eu gostaria que eles estivessem tão felizes como eu! Prometi a mim mesmo repetir essa ação no próximo Natal.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 19/12/2022
Reeditado em 19/12/2022
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